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“Irã está aumentando sua influência política”, diz Carlos Eduardo Martins

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Os desdobramentos do enfrentamento bélico entre Estados Unidos e Irã ainda parecem imprevisíveis. As tensões aumentam de ambos os lados e, além da retórica das autoridades, alguns episódios indicam que o país asiático não tem a intenção de recuar na ofensiva. É o caso da queda de um avião ucraniano na última quarta-feira (09), em Teerã, que deixou 176 mortos.

 

Imagens divulgada pelo jornal The New York Times levantam a suspeita de que um míssil pode ter atingido a aeronave. As autoridades iranianas negam que tenham abatido o avião comercial. Apesar das dúvidas, os analistas reforçam a ideia de que o governo de Donald Trump sai enfraquecido desta situação.

 

O professor de Ciências Políticas do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (Irid) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Carlos Eduardo Martins lembrou a influência do acordo nuclear, do qual os Estados Unidos já tinham saído, e o Irã anunciou que ‘desconhecerá os limites impostos’, elevando as preocupações do governo de Donald Trump quanto à perspectiva de domínio da tecnologia pelo país asiático.

 

“Uma questão é a de guerra, que nós colocamos no papel, e o outro lado o erro de cálculo da estratégia imperialista. Os Estados Unidos tinham a impressão que conseguiriam sufocar o Irã com esse tipo de iniciativa. Desde 2016, o Trump, ao se eleger, se colocou contra o acordo sobre limitação do enriquecimento de urânio do Irã feito pelo [Barack] Obama. Se estabeleceu um conjunto de sanções sobre o Irã tentando, com isso, impor um novo acordo, onde se eliminasse completamente a produção de urânio”, disse.

 

“O que se tem como resultado é que o Irã coloca na mesa a possibilidade de romper o acordo que ainda mantém com os países europeus em nome da sua capacidade de defesa, portanto, abrindo espaço para um alto nível de enriquecimento próprio do urânio. Então o resultado acaba sendo o inverso, o Trump queria impedir o enriquecimento de urânio, mesmo a baixo nível, e o resultado concreto é que, em menos de cinco anos, o Irã tem a possibilidade de sair desse acordo”, continuou Martins.

 

A retirada do acordo nuclear, na análise do docente, amplia a influência do país liderado pelo aiatolá Ali Khamenei no Oriente Médio. Além disso, com o assassinato do general Qasem Soleimani, as forças internas no Irã, que estavam fragmentadas, voltam a se aglutinar, expandindo o alcance das decisões. O parlamento do Iraque, em apoio, já aprovou a saída das tropas estrangeiras do país.

 

“Sob um conjunto de sanções que o Trump havia estabelecido, o Irã começou a ter problemas econômicos importantes e a luta política interna, inclusive dentro do Iraque, havia se ampliado bastante, a luta de classes entre a maioria xiita. Esse ataque do Trump permite ao Irã se unificar politicamente e internamente, e também o governo de maioria xiita aliado aos curdos no Iraque, que havia sido questionado por manifestações populares frente, a qual, o governo havia disparado com snipers, que contavam com parte da guarda iraniana, consegue também reunificar-se em torno das bandeiras anti-imperialistas. O resultado, até agora, tem sido muito ruim do ponto de vista político para os Estados Unidos”, analisou.

 

A eventualidade de um conflito amplo pode interferir nos planos eleitorais do presidente estadunidense. Carlos Eduardo Martins utilizou o exemplo de uma nação europeia para fundamentar sua tese.

 

“Se há uma guerra e o Irã efetivamente ataca os Estados Unidos, pode ter um péssimo resultado para o Trump se a população norte-americana considerar que essa guerra foi produto de uma aventura absolutamente estúpida, inclusive porque se sai de uma situação onde havia se conseguido institucionalizar a inserção do Irã na comunidade internacional, liderada pelos Estados Unidos, para outra onde está completamente fora de controle. Lembro que [José Maria] Aznar perdeu uma eleição na Espanha em função da sua adesão à coalizão que intervém no Iraque”, pontuou.

 

Ouça a entrevista de Carlos Eduardo Martins:

 

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