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O projeto de governo eleito nas urnas no ano passado e representado por Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto apresenta claramente o atendimento aos interesses da classe dominante. Disso ninguém discorda. O que parece incomodar as elites que patrocinaram a ascensão do ex-capitão do Exército ao poder é a ignorância e a grosseria com as quais o presidente trata a maioria das questões.
O mais recente episódio aconteceu ontem (04), quando Bolsonaro deu declarações de apoio ao golpe de Estado do general Augusto Pinochet no Chile, em 1973, e atacou a ex-presidente do país Michelle Bachelet, hoje alta comissária de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). As palavras do mandatário brasileiro causaram revolta no país sul americano e criaram um mal-estar com uma das poucas nações que ainda é – ou era – simpática ao político do PSL.
O professor da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mauro Iasi destacou que os representantes do capital hegemônico já demonstram desconforto com a postura irracional de Bolsonaro.
“Tenho a impressão que Bolsonaro é o setor mais conservador dessa burguesia de porre. É algo que imagino que seja constrangedor até para a pauta da burguesia A elite brasileira sofisticada está incomodada com uma pessoa de perfil beirando tanto a insanidade como é o presidente da República. Tem o tom de uma incontinência verbal, de um destempero momentâneo, mas acredito que isso, no conjunto da obra, já começou a fazer parte do script”, avaliou.
Uma das ameaças aos interesses das elites, na opinião do dirigente do PCB, diz respeito aos seguidos ataques que o governo tem feito à Amazônia, minimizando os efeitos das queimadas que acontecem na região, o que pode provocar prejuízos às exportações brasileiras a partir de represálias de países europeus.
“Torna-se claramente um incômodo para a pauta da burguesia essa crise ambiental provocada pelo destemperado do [Ricardo] Salles [ministro do Meio Ambiente], é algo que tem provocado aos setores econômicos riscos de retaliação pelos parceiros europeus, e se indispôs não só com o presidente da França, o da Alemanha, o da Noruega, tem criado atritos onde não seria necessário criar na pauta do agronegócio. Tem criado atrito na área da mineração, que é uma prioridade para sua gestão, então isso mostra que o personagem tem ficado cada vez mais preocupante, ele está perigosamente navegando fora do roteiro”, observou Iasi.
O caráter de inconveniência do ex-capitão do Exército e sua equipe de ministros remete ao período mais sombrio da história do país. O professor da UFRJ destacou, inclusive, uma declaração do atual titular da Pasta da Educação.
“Ele é um incômodo daquilo que se queria esconder no armário desde o segmento militar, com as atrocidades realizadas após 1964, até essa versão que complementa, no âmbito dos valores, as premissas ultraliberais que o Guedes implementa. Quando você transforma isso naquela aparência de civilização, uma proposta econômica, ela vem junto com uma política de extermínio social. Bolsonaro explicita esse extermínio social, quando, por exemplo, o Weintraub diz, com todas as letras, que o Brasil é um país para poucos. É a essência desse projeto burguês para o Brasil”, concluiu.
Ouça a entrevista de Mauro Iasi na íntegra:
Entrevista em 05.09.2019