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Editorial – 04.01.2021

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Depois desse breve período de recesso aqui no Faixa Livre, estamos de volta com nossos programas inéditos, e nessa primeira edição do ano, depois de um 2020 repleto de dificuldades provocadas pela pandemia e por gestores ineptos nos âmbitos municipal, estadual e federal, eu gostaria de, nesse espaço editorial, trazer uma palavra de esperança. Para isso, eu farei a leitura do belíssimo texto do escritor José Eduardo Agualusa, publicado na edição do jornal O Globo de 31 de dezembro. Ele diz o seguinte:

 

Querido 2021, seja bem-vindo!

 

Entre, a casa é sua.

 

Se não for pedir demais, nos devolva, por favor, todos os abraços que seu prezado antecessor nos roubou. Queremos também as gargalhadas dos parentes e amigos, o livre sorriso dos desconhecidos, a brisa no rosto. Gostaríamos ainda de ter de volta a alegria das viagens; a tumultuosa euforia dos estádios e dos grandes shows; todas as tardes em que não fomos beber cerveja com os amigos no boteco da esquina.

 

Não se esqueça de nos devolver aqueles jantares intermináveis, em que discutíamos o fim do mundo e como iríamos recomeçá-lo. Hoje, que sabemos muito mais sobre o fim do mundo, essas conversas antigas me parecem todas um tanto ou quanto ingênuas. Contudo, mais do que antes, é importante conversar sobre recomeços. Trocar sonhos. Debater utopias.

 

Peço em particular que me devolva os festivais literários —dos quais, em 2019,

eu estava até (confesso) um pouquinho enfastiado. Durante o seu reinado, quero muito regressar a Paraty. Não posso perder a FliAraxá, a Flup ou a Flica, em Cachoeira.

 

Eu, que não sou de futebol nem de carnaval, agora sinto ânsias de me perder entre multidões, gritando, sambando, abraçando, me descobrindo nos outros. Quero dançar sem culpa. Quero poder voltar a abraçar meus velhos pais sem medo de os contaminar.

 

A maior invenção da Humanidade não foi a roda nem o fogo. Não foi o futebol, a feijoada, o samba, o xadrez, a literatura, sequer a internet. A maior invenção da Humanidade, querido 2021, foi o abraço. Olho para trás e vejo a primeira mãe, acolhendo nos braços o filho pequeno. O nosso pai primordial apertando contra o peito forte (e peludo) a mulher amada; dois amigos se consolando numa armadura de afeto. Depois desses primeiros abraços, alguma coisa mudou para sempre. O mundo continuou perigoso, sim, o mundo será sempre perigoso, mas passamos a ter o conforto de um território inviolável. Foi o abraço que fundou a civilização.

 

Com elevada estima

 

José Eduardo Agualusa

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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