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Editorial – 08.01.2021

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O Brasil atingiu ontem a triste e vergonhosa marca de 200 mil mortes provocadas pela pandemia de Covid-19, se consolidando como o segundo país com o maior número de óbitos pela doença. O pior de tudo é pensar que esse número assombroso de vidas perdidas se dá, em grande medida, pela iniciativa criminosa e genocida do Governo Federal primeiro em negar a gravidade da doença, incentivando que as pessoas deixassem o isolamento social, fundamental para reduzir o índice de infecções, depois pela falta de coordenação e planejamento prévio para iniciar a imunização o mais rápido possível.

 

Já há no mundo mais de 50 países que começaram a vacinação contra o novo coronavírus, enquanto o Brasil segue sem uma data definida. No dia em que chegamos a essa marca nefasta, o Ministério da Saúde anunciou que vai iniciar o plano nacional até o fim desse mês. O ministro general Eduardo Pazuello, que é o terceiro a ocupar o cargo nessa pandemia, avisou que o Brasil adquiriu 100 milhões de doses da Coronavac, desenvolvida em parceria entre o Instituto Butantan e o laboratório chinês Sinovac. Resta saber se teremos agulhas e seringas para aplicar as doses. Hoje infelizmente é mais um dia de luto no nosso país.

 

Eu gostaria de falar também sobre os desdobramentos daquela tentativa de golpe mambembe promovida pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump e por um grupelho de seguidores no Congresso dos Estados Unidos, que provocou uma série de reações mundo afora, inclusive aqui no Brasil, diversas autoridades comprometidas com a democracia lamentaram o episódio, alertaram para os perigos que isso traz a outras nações, menos, evidentemente, o presidente Jair Bolsonaro.

 

O ex-capitão do Exército insistiu no discurso falacioso de que houve fraude no processo eleitoral estadunidense e, pior, disse que o Brasil terá um “problema pior que os Estados Unidos” se não houver voto impresso nas eleições de 2022, ou seja, ele ameaça abertamente a ordem democrática caso o resultado das urnas não o favoreça, essa que é a verdade.

 

Eu queria aproveitar para ler um trecho do que o jornalista Leonardo Sakamoto escreveu no site UOL a respeito desse episódio lá nos Estados Unidos e suas consequências. O título do artigo é “Tentativa de golpe de Trump é lição para o Brasil se preparar para 2022”:

 

Assim como Trump, que perdeu a eleição nos EUA e culpou o sistema eleitoral, Bolsonaro ataca a urna eletrônica, expandindo uma dúvida antes restrita a pequenos grupos que acreditam em teorias da conspiração – o que pode ser útil para questionar o resultado das eleições em 2022, caso lhe seja desfavorável. O presidente defende que as urnas produzam um comprovante impresso, mesmo que especialistas afirmem que isso só tumultuaria o processo.

 

A campanha de desinformação contra nosso sistema eleitoral levada a cabo por bolsonaristas tem surtido efeito, tanto que pesquisa Datafolha, publicada neste domingo (3), apontou que 23% da população quer a volta do voto em papel, ironicamente mais suscetível a fraudes e que leva mais tempo para ser apurado.

 

Jair ajuda a pavimentar sua narrativa para a batalha que irá logo adiante dentro de um projeto maior. Assim como nos EUA, declarações como essas, sem provas, vindas de um presidente, fragilizam instituições. Simultaneamente, o governo Bolsonaro já tentou sequestrar ou enfraquecer Coaf, Receita Federal, Polícia Federal, Procuradoria-Geral da República, instituições de fiscalização e controle.

 

No primeiro turno das eleições do ano passado, milícias bolsonaristas se aproveitaram de problemas do Tribunal Superior Eleitoral (que em nada afetaram a segurança da votação) para colocar sob suspeita as eleições nos municípios em que seus candidatos não foram bem votados e para lançar um véu de dúvida sobre o sistema como um todo. Na mesma época, o presidente demorou para reconhecer a vitória de Joe Biden. “Eu estou aguardando um pouco mais”, disse. “Teve muita fraude lá, isso ninguém discute”.

 

O que aconteceu, nesta quarta, no Capitólio é uma lição para o Brasil se preparar para 2022. Não uma lição apenas para bolsonaristas, mas para todos os que prezam pela democracia. Pois, por aqui, com uma democracia mais jovem, instituições mais frágeis e Forças Armadas com uma relação, não raro, promíscua com o presidente, podemos não ter um desfecho republicano.

 

Milhares de seguidores de Bolsonaro insatisfeitos com uma derrota de seu herói vão se satisfazer com protestos contra o resultado ou vão querer invadir instituições e atacar jornalistas? O que pode acontecer se bolsonaristas, que foram generosamente armados pelo presidente nos últimos anos, resolvam ir às ruas e encontrarem com soldados, cabos e sargentos simpáticos a Bolsonaro? O que acontece quando um governo com laços com milícias é profundamente contrariado?

 

Em tempo: Como comentou um amigo jornalista que trabalha nos EUA, fosse um ato do Black Lives Matter, não conseguiria passar nem perto da porta do Congresso. Mas como são brancos e conservadores, fazem o que desejam”.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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