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Editorial – 12.02.2021

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A entrega do Banco Central para o capital financeiro, que se concretizou na última quarta-feira, é o apogeu de três décadas de tentativas dos ultraliberais se apoderarem da política monetária do nosso país, mas a aprovação dessa medida pelo Congresso tem um símbolo. E é isso que eu quero apresentar a vocês no editorial de hoje, fazendo a leitura de um artigo publicado ontem pelo professor Gilberto Maringoni nas suas redes sociais, que tem o título de “Arthur Lira e a lógica do poder (de classe)”:

 

Sim, é um escândalo o que a Câmara aprovou ontem (10), a virtual privatização do Banco Central. Um tiro de canhão na economia nacional.

 

Mas raciocinemos friamente, sob a lógica do exercício do poder e dos interesses de classe. Arthur Lira, parlamentar a soldo de quem cobrir seu preço, fez valer a prática de que o governante deve aproveitar o período de maior legitimidade para concretizar medidas duras e que descontentam parte da sociedade. É a marca do imediato pós-eleição. É o momento em que os desgastes naturais e a fadiga do material ainda não dão o tom e em que os eleitos exibem o frescor da novidade.

 

O pioneiro nessa métrica foi Franklin D. Roosevelt, ao assumir o governo dos Estados Unidos, em 1933, em meio à maior crise da história do capitalismo até então. Eram os “cem dias”, expressão tornada clássica desde então. O democrata mostrou ali toda a sua ousadia. Não titubeou em desfraldar o poder de Estado no comando da atividade econômica.

 

Começava o “New Deal”, programa de planejamento e investimento anticíclico, que o colocava em oposição ao seu antecessor, o ultraliberal Herbert Hoover (1929-33). Foram os três meses imediatos à posse, em que FDR contava com apoio e entusiasmo dos que lhe proporcionaram a vitória. E oposição dura dos derrotados.

 

Lira seguiu o exemplo, com sinal trocado. Apresentou 35 medidas que deseja aprovar, em articulação com a extrema-direita bolsonarista. FHC agiu da mesma maneira em 1995 e mesmo Bolsonaro chegou chegando ao Planalto, mostrando de forma brutal a que viera.

Seria espantoso que Lira colocasse para aprovar pautas da oposição, como ampliação de verbas para a Saúde, fim do teto de gastos, auxílio emergencial imediato e sem contrapartidas e o impeachment do boçal. Compromisso de classe é compromisso de classe e pensar em ações que contrariem tais interesses é puro delírio.

 

É sandice equivalente a imaginar, por exemplo, que um líder progressista chegasse ao governo e – aproveitando da popularidade alta – evitasse pautas democratizantes e tomasse medidas caras aos inimigos de véspera, como reforma da Previdência, ajuste fiscal radical e profundo, aumento abrupto dos preços administrados – energia, saneamento, combustíveis -, manutenção de legislações arbitrárias, leilões de riquezas nacionais etc.

 

Absurdo, não? O poder racional tem lógica. Isso jamais aconteceria. Seria também puro delírio. Por isso Arthur Lira age como age. É brutal, mas coerente com sua trajetória”.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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