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Editorial – 14.01.2020

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Ontem foi anunciado pela turma do Oscar, da indústria cinematográfica norte-americana, os finalistas para a premiação desse ano, e o documentário brasileiro “Democracia em vertigem”, da cineasta Petra Costa, é um dos finalistas na categoria documentário. Essa escolha, evidentemente, tem uma natureza política, afinal de contas o nosso atual presidente tem como alvo predileto dos seus ataques justamente os artistas e, particularmente, não só artistas brasileiros. Vimos recentemente Bolsonaro tentando relacionar o ator Leonardo Di Caprio com responsabilidades em relação às queimadas na Amazônia, por mais incrível que isso possa parecer.

 

A repercussão dessa escolha é imediata, basta ver, por exemplo, a reação de um dos porta-vozes das organizações Globo hoje no jornal da empresa da família Marinho, e por aí vai. O fato é que independentemente dessa escolha, o efeito e, principalmente, a possibilidade real desse documentário ser escolhido como o melhor do ano passado, irá expor ainda mais o desgaste ao governo Bolsonaro e amplificar ainda mais a projeção da crise brasileira ao redor do mundo. É mais um fator para refletirmos e, principalmente, para o próprio governo brasileiro tirar as suas conclusões e lições, isso em um momento onde cresce a pressão do governo Bolsonaro contra artistas e a própria cultura

 

Um exemplo disso é o que vem acontecendo no âmbito do antigo Ministério da Cultura, reduzido a uma mera secretaria, joguete entre os ministérios de Bolsonaro e onde hoje encontra-se subordinado ao Ministério do Turismo, por mais incrível que isso possa parecer. Ontem tivemos, por exemplo, uma manifestação na porta da Casa de Rui Barbosa. A Casa de Rui Barbosa, a partir da nomeação de uma nova presidente, sofreu uma série de mudanças que são consideradas extremamente graves para a vida da instituição com a destituição de funcionários de carreira que ocupavam postos importantes na área de pesquisa.

 

A repercussão nacional e internacional desse tipo de medida tem tido a sua relevância e fez, inclusive, que um conjunto de especialistas que trabalham nos Estados Unidos e na América Latina se expressassem de maneira preocupada em uma carta aberta em defesa da Fundação Casa de Rui Barbosa, uma carta aberta dirigida a sua atual presidente, a senhora Letícia Dornelles. A carta eu farei a leitura agora, diz o seguinte:

 

Nós, os abaixo-assinados especialistas em Brasil trabalhando nos Estados Unidos e na América Latina, queremos expressar nossa profunda preocupação com a tentativa de desmantelamento do Centro de Pesquisa da Fundação Casa de Rui Barbosa por meio da exoneração de seu diretor e dos chefes dos setores de pesquisa, que, além de serem dedicados pesquisadores, são profissionais de liderança em suas áreas de conhecimento.

 

Como especialistas em Brasil que fizemos pesquisa na Casa de Rui Barbosa, participamos em simpósios nacionais e internacionais aí organizados ou sabemos da sua reputação internacional de excelência em pesquisa e reflexão, tememos que essa medida reflita a falta de apoio ao importante trabalho realizado pela instituição sob a liderança dos chefes das unidades de pesquisa que foram arbitrariamente afastados de suas posições.

 

Demandamos o imediato retorno aos seus cargos de Antônio Herculano Lopes, Diretor do Centro de Pesquisa, bem como dos chefes das suas distintas unidades – Flora Süssekind, Charles Gomes, Joëlle Rouchou e José Almino de Alencar – para que possam dar prosseguimento às suas atividades”.

 

Um conjunto expressivo de pesquisadores e professores assinam essa nota, como é o caso de Amy Chazkel, do Departamento de História da Universidade de Columbia, Barbara Weinstein, Professora de História da Universidade de Nova Iorque, Bruno Carvalho, Professor de Línguas e Literaturas Românicas e Codiretor da Iniciativa Urbana da Harvard Mellow, da Universidade de Harvard, Bryan McCann, Professor de História da Universidade de Georgetown e um conjunto de outros pesquisadores, inclusive o Marcelo Paixão, economista formado na UFRJ, e que hoje é Professor Associado de Estudos Africanos e da Diáspora Africana, na Universidade do Texas, em Austin.

 

Isso apenas é uma parte dessa verdadeira tragédia que a área do antigo Ministério da Cultura vem sofrendo. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional também tem sido objeto de mudanças no seu comando absolutamente perniciosas, inclusive a perspectiva de preservação do nosso riquíssimo patrimônio artístico e natural. Isso coloca o Brasil, e eu retorno à questão do documentário brasileiro “Democracia em vertigem”, em uma situação bastante vexatória no plano internacional.

 

As repercussões dessas decisões do governo Bolsonaro apenas nos isolam neste cenário e mostram muito bem que esse caminho do obscurantismo vem se tornando uma espécie de marca do momento que estamos vivendo. É mais uma dimensão da tragédia brasileira que nos envolve desde o processo de abertura de impeachment contra Dilma Rousseff, que é justamente a questão central focalizada nesse documentário.

 

Ouça o comentário de Paulo Passarinho:

 

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