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Editorial – 16.11.2020

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Ontem tivemos o primeiro turno das eleições municipais por todo o país que confirmou algumas tendências que nós já vínhamos percebendo nos últimos dias. A ascensão de Guilherme Boulos, em São Paulo, se ampliou ainda mais nas últimas horas antes do pleito e ele chega com uma votação expressiva ao segundo turno, pouco atrás de Bruno Covas, do PSDB, que tenta a reeleição. A candidatura de Celso Russomano, como sempre, derreteu na reta final e ele acabou atrás até de Márcio França.

 

Já no Rio, aquela ideia do voto útil em um candidato de esquerda parece que não se efetivou, ou pelo menos não surtiu o efeito necessário, já que teremos um segundo turno com Eduardo Paes e Marcelo Crivella. O atual prefeito acabou ganhando terreno especialmente após colar sua campanha na figura do presidente Jair Bolsonaro, que declarou seu apoio ao candidato do Republicanos e passou a aparecer na propaganda de rádio e TV de maneira incessante. O bolsonarismo ainda tem alguma força aqui na capital fluminense, embora as chances do Crivella no segundo turno sejam pequenas, dada sua elevada rejeição.

 

Bom, eu vou me dedicar a debater o resultado do primeiro turno das eleições no programa de amanhã, quando nós teremos os resultados consolidados de todo o país, lembrando que esse programa foi gravado antes da definição de todos os números do pleito Brasil afora. Eu gostaria também de ler aqui no nosso espaço editorial mais um belo artigo do jornalista Bernardo Mello Franco, publicado na edição de ontem do jornal O Globo, onde ele fala sobre a Proclamação da República, comemorada no domingo, e a atuação das Forças Armadas no nosso cenário político atual. O título do texto é “A República e os quartéis”:

 

A República faz aniversário. Cento e trinta e um anos e ainda não tomou juízo. Começou instável, pela espada do Deodoro, e continua aí na corda bamba.

 

Essas frases foram escritas por Otto Lara Resende, em 1991. O diagnóstico continua certeiro. Só atualizei a contagem dos anos.

 

Em 15 de novembro de 1889, o país passou a ser governado por um marechal. Hoje está nas mãos de um capitão. Não foi só nisso que regredimos.

 

Na semana das eleições municipais, os holofotes se deslocaram dos candidatos para o comandante do Exército. O general Edson Pujol afirmou que as Forças Armadas “são instituições de Estado”. A obviedade não deveria chamar a atenção numa democracia.

 

‘Não somos instituição de governo, não temos partido. Nosso partido é o Brasil’, disse o general. Ele cometeu um ato falho. A última frase estampava a camiseta de Jair Bolsonaro quando ele foi esfaqueado em Juiz de Fora.

 

Na sexta, o vice-presidente Hamilton Mourão endossou as palavras de Pujol. “Política não pode entrar dentro do quartel. Se entra política pela porta da frente, a disciplina e a hierarquia saem pelos fundos”, afirmou.

 

O general não costumava pensar assim. Antes de passar à reserva, ele foi punido duas vezes por se meter na política. Em 2015, Mourão afirmou que o impeachment de Dilma Rousseff significaria “o descarte da incompetência, má gestão e corrupção”. Em 2017, disse que Michel Temer promovia um “balcão de negócios” para não cair.

 

Nas duas ocasiões, o general sabia o que estava fazendo. Ao atacar presidentes, ele quebrou a hierarquia para se projetar na política. Deu certo. Em 2018, seria convidado a integrar a chapa de Bolsonaro.

 

A declaração de Pujol também não combina com a atuação de seu antecessor. Às vésperas da eleição, o general Eduardo Villas Bôas pressionou o Supremo Tribunal Federal a negar um habeas corpus ao ex-presidente Lula.

 

A interferência da caserna no Judiciário empolgou o então candidato Bolsonaro. “Estamos juntos, general”, tuitou o capitão, que seria o maior beneficiário do julgamento.

 

Ao vestir a faixa, o presidente premiou o militar com um cargo no Planalto. A filha dele está pendurada no gabinete da ministra Damares Alves.

 

No início do mês, surgiram novas informações sobre a atuação política de Villas Bôas. Nos meses que antecederam o impeachment de Dilma, ele teve “vários encontros” com o então vice-presidente Michel Temer, segundo relato do professor Denis Rosenfield.

 

O comandante do Exército reclamava da Comissão Nacional da Verdade, que investigou crimes da ditadura. Na mesma época, o senador Romero Jucá foi gravado dizendo que os chefes militares prometeram “garantir” a derrubada da presidente.

 

Ao assumir a cadeira de Dilma, Temer deu ministérios a dois generais ligados a Villas Bôas. Um deles assumiu a pasta da Defesa, que só havia sido ocupada por civis.

 

Começava ali o retorno dos militares ao centro do poder. Com a vitória de Bolsonaro, os generais pensaram que voltariam a mandar no país. Agora alguns se dizem arrependidos, mas não o suficiente para deixarem os cargos”.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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