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Editorial – 26.02.2021

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Aquela vergonhosa tentativa da Câmara dos Deputados em blindar os parlamentares de decisões judiciais, com a discussão em tempo recorde de uma Proposta de Emenda à Constituição que dificulta a prisão de congressistas, apelidada de PEC da imunidade, recebeu forte oposição de integrantes do Supremo Tribunal Federal, que viram essa matéria como uma afronta e uma espécie de retaliação à detenção do deputado Daniel Silveira.

 

Alguns ministros da Corte já preveem até o questionamento da constitucionalidade do texto que começou a ser analisado em primeiro turno ontem pelos deputados, sem ter passado sequer por alguma das Comissões da Casa. Longe de mim querer defender esse processo de judicialização da atividade política que se dá no nosso país e que teve como ponto alto a operação Lava Jato, mas fato é que determinados exageros, para dizer o mínimo, como o desse parlamentar valentão precisam ser barrados para que não se acelere ainda mais o processo de deterioração dessa nossa já castigada democracia.

 

A utilização pelo STF da Lei de Segurança Nacional, editada na época da ditadura, para punir Daniel Silveira merece repúdio de todos nós, mas daí a deixar que essa figura siga ameaçando quem ele quer e, mais do que isso, incentivando atitudes violentas de seus apoiadores vai um longo caminho. Vamos ficar atentos para ver se o Congresso conseguirá aprovar essa PEC.

 

Eu queria falar também sobre essa tragédia que é a pandemia no nosso país, alcançamos anteontem a marca de 250 mil óbitos provocados pela Covid-19, e trazer um dado que, de alguma forma, explica a falta de vacinas no país, mas sem eximir de responsabilidade o Governo Federal nessa atuação diante do novo coronavírus.

 

O fato é que muito antes de o ex-capitão atacar a pesquisa científica no Brasil, reduzindo recursos do orçamento para ciência e tecnologia, nós sofremos com um desinteresse, em maior ou menor grau, de gestões do Executivo federal com os estudos relacionados a imunizantes para seres humanos no nosso país, ao contrário do que acontece no agronegócio.

 

Eu vou ler um trecho de uma matéria publicada no site da BBC Brasil, produzida pela jornalista Nathalia Passarinho, que não é parente do nosso querido Paulo, onde ficam bem claras as prioridades nacionais nas últimas décadas. A reportagem tem o título de “Coronavírus: Brasil tem quase 30 fábricas de vacina para gado e só 2 para humanos”:

 

A pandemia da covid-19 evidenciou uma fragilidade do Brasil: a alta dependência de insumos importados da China para a fabricação de vacinas e o sucateamento de laboratórios e fábricas usados para produzir imunizantes no país.

 

Enquanto na década de 1980, o Brasil tinha pelo menos cinco institutos capazes de produzir vacinas, atualmente, há apenas dois em operação: Bio-Manguinhos, da Fiocruz, e o Instituto Butantan.

 

E das 17 vacinas atualmente distribuídas por esses dois institutos de pesquisa, só quatro são fabricadas totalmente no Brasil e não dependem da importação do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), como é chamada a matéria-prima para produzir imunizantes.

 

Esse sucateamento do setor de vacinas para humanos contrasta com os elevados investimentos na fabricação nacional de imunizantes para animais, principalmente gado.

 

Enquanto o Brasil importa a grande maioria das vacinas usadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mais de 90% das vacinas para gado são fabricadas no país, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan)”.

 

Ou seja, enquanto o gado de corte tem garantida a produção de vacinas para uma série de doenças em território nacional, nós brasileiros viramos reféns de uma política que privilegia a exportação de carne à saúde da população. Isso diz muito sobre que tipo de interesses a nossa classe política defende.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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