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Editorial – 26.11.2019

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Nós temos acompanhado aqui no programa Faixa Livre as apreensões que vêm principalmente daqueles que trabalham no campo, militam no campo e lutam pela mudança da nossa realidade agrária e, principalmente, por uma outra política agrícola. O Brasil, nos últimos anos e nas últimas décadas, se caracterizou por um país que avançou muito nas culturas extensivas e onde são as monoculturas que dominam o nosso campo, especialmente o Cerrado, mas avançando cada vez mais na Amazônia.

 

É a fronteira agrícola conduzida pelo agronegócio e que conta com o amplo apoio do governo em todas as suas ações, não somente em termos de infraestrutura, mas particularmente com incentivos fiscais muito generosos. Tudo isso por conta, inclusive, das necessidades do país gerar divisas, onde em um processo muito grave de desindustrialização que o Brasil sofre já há três décadas, cada vez mais apostamos na exportação de commodities agrícolas para poder fazer frente aos nossos compromissos em moeda estrangeira.

 

É dentro desse quadro que são muito preocupantes as ações violentas dos setores ligados aos latifundiários, não somente fazendeiros, mas cada vez mais empresas internacionais, inclusive, que controlam o nosso campo, e isso gera uma série de tensões. Naturalmente existe uma demanda muito grande no Brasil por terras para quem trabalha, mas isso de esbarra na lógica do latifúndio, ainda mais desse latifúndio produtivo, turbinado pelas modernas tecnologias da economia verde que, na verdade, podem ser traduzidas em toneladas de veneno que tornam a terra fértil, mas, ao mesmo tempo, causam um conjunto de problemas ao meio ambiente, aos solos, às águas dos rios e até mesmo À saúde humana.

 

E dentro desse contexto de elevação e crescente tensão do campo, com mortes, com assassinatos, com o desaparecimento especialmente de militantes em torno da questão agrária que nós devemos avaliar a declaração de ontem do senhor Jair Bolsonaro. Ele afirmou que vai enviar um projeto de lei pelo qual a União poderá recorrer a operações de Garantia da Lei e da Ordem para reintegração de posse em área rural. Cabe aos estados cumprir essas decisões judiciais, mas o presidente se queixa da demora dos governadores em expulsar invasores. Na verdade, aqueles que lutam por uma nova realidade agrária no país.

 

O que Jair Bolsonaro quer é, assim como já se usa constantemente tropas militares para o policiamento nas grandes cidades, especialmente em torno de grandes eventos e em momentos de tensão, hoje a intenção de Bolsonaro é levar essa experiência, a chamada operação de Garantia da Lei e da Ordem, para o campo, ou seja, a utilização de tropas militares para se enfrentar esse problema das ocupações.

 

Ou seja, ao invés de enfrentarmos o problema da péssima divisão de terras no Brasil, da concentração fundiária do país, que é recorde no mundo, o senhor Bolsonaro pretende usar tropas militares que deveriam ser usadas exclusivamente na defesa da soberania do país, na defesa territorial do país, na defesa do país contra interesses estrangeiros especialmente, mas por esse caminho da deformação, que inclusive é uma orientação do Departamento de Estado norte-americano, nossas Forças Armadas se voltam cada vez mais para ações de combate a chamada criminalidade.

 

É dentro desse contexto, de uma ótica onde Jair Bolsonaro considera a luta pela terra, a luta pelas ocupações como algo criminoso, que o atual presidente quer deslocar tropas militares, do Exército e até mesmo de outras forças militares para se enfrentar esse problema, que é um problema secular no Brasil, o problema da concentração da terra. Ou seja, cada vez mais estamos a depender da vontade de Bolsonaro retrocedendo, e retrocedendo expondo todos aqueles que lutam por uma nova realidade à violência, à violência das armas, seja ela vinda de milícias, seja até mesmo por parte das Forças Armadas.

 

Ouça o comentário de Paulo Passarinho:

 

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