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Editorial – 27.05.2020

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Ontem fomos surpreendidos com a notícia de mais um escândalo envolvendo supostamente um chefe do Executivo do estado do Rio de Janeiro, o sexto investigado em quatro anos. A operação Placebo, deflagrada pela Polícia Federal de Brasília na manhã de terça-feira com autorização do ministro do Superior Tribunal de Justiça, o STJ, Benedito Gonçalves, apura suspeitas de desvios na saúde do Rio de Janeiro.

 

O governador Wilson Witzel e a primeira-dama Helena foram alvos de mandados de busca e apreensão. Os policiais estiveram na casa em que o político morava antes de ser eleito, no bairro do Grajaú, zona Norte da cidade, no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governo do Rio, além do escritório de Helena, que é advogada, no Centro do Rio.

 

Nas ações foram apreendidos pen drives, celulares e computadores do governador e de sua esposa. O sigilo dos aparelhos foi quebrado pelo STJ, responsável pelas decisões neste episódio por conta do foro privilegiado de Witzel. Outros alvos da operação foram a Organização Social Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde, o Iabas, contratada pelo governo do Rio para a construção de sete hospitais de campanha no estado pelo valor de R$ 835 milhões, além de Gabriell Neves, ex-subsecretário de Saúde, preso há cerca de duas semanas na operação Mercadores do Caos por suspeita de fraude na compra de respiradores.

 

O ex-secretário de Saúde Edmar Santos e a sede da própria Secretaria também tiveram a visita de policiais na manhã de terça-feira. O que temos de fatos até aqui, além do que já citamos, é que a decisão do ministro do STJ teria sido motivada pela descoberta de um contrato entre o escritório de advocacia da primeira-dama e a empresa DPAD Serviços Diagnósticos LTDA, que possui como sócio Alessandro Araújo Duarte, apontado como operador do empresário Mário Peixoto, também preso juntamente com Gabriell Neves por supostamente estar ligado às fraudes na saúde.

 

É evidente que todo este episódio precisa ser investigado com profundidade, há indícios de ligação de Witzel com essa máfia dos respiradores que rouba o dinheiro dos impostos pagos pela população do Rio de Janeiro, estado já tão afetado pelos desmandos de administradores nos últimos anos e que vive à beira de um colapso nas contas públicas. A grande questão é que há uma série de pontos obscuros nesta investigação, perguntas que estão sem resposta e precisam de um esclarecimento urgente. Vou listar algumas delas para vocês, ouvintes.

 

Por exemplo, por que a operação foi deflagrada justamente após troca do Superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, atendendo a um desejo antigo do presidente Bolsonaro, adversário político declarado do governador do Rio? Por que, também, os policiais fizeram as buscas poucos dias depois da divulgação do vídeo da tal reunião ministerial vexatória que confirma uma série de crimes cometidos pelo presidente da República? Seria uma tentativa de mudar o foco da opinião pública?

 

Por que o STJ autorizou as apreensões no dia seguinte ao presidente Jair Bolsonaro fazer uma visita de “cortesia” ao Procurador-Geral da República Augusto Aras, responsável pelo pedido ao Judiciário para realização da operação Placebo e responsável também por uma possível denúncia do ex-capitão do Exército sob a acusação de violar a autonomia da Polícia Federal?

 

Por que a deputada federal Carla Zambelli, aliada de primeira hora do presidente, adiantou anteontem em entrevista à Rádio Gaúcha que nos próximos dias seriam retomadas as operações da PF tendo como alvo governadores? Por que o governador Wilson Witzel, depois de exonerar o ex-secretário de Saúde Edmar Santos, o renomeou como secretário-extraordinário de Acompanhamento da Covid-19? Poderia ser uma tentativa do político manter o foro especial do seu comandado?

 

Todos esses questionamentos estão no ar. Pelo que os fatos indicam, parece clara a interferência da família Bolsonaro na Polícia Federal e o caráter político para a deflagração desta operação, como acusa o governador do Rio, não pode ser descartado. No entanto, reforçamos a necessidade de que as autoridades instituídas promovam uma investigação isenta que aponte os verdadeiros culpados por mais este assalto ao povo do Rio de Janeiro.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes

 

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