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A postura de embate do Governo Federal contra as instituições de cultura no Brasil teve como sua mais recente vítima a Fundação Casa de Rui Barbosa. Um dos mais importantes centros de pesquisa e referência na preservação cultural e histórica do país foi alvo da política de desmonte de Jair Bolsonaro com a exoneração de cinco dos principais coordenadores e pesquisadores da instituição, no início do ano.
O temor dos profissionais é que as demissões iniciem um processo de desmantelamento do centro de pesquisas. Na última terça-feira (14), professores e intelectuais se manifestaram em defesa da instituição em frente à sua sede, em Botafogo, zona Sul do Rio de Janeiro. A direção trancou as portas da casa para evitar o protesto.
Um dos exonerados recentemente, o sociólogo, escritor, ex-presidente e ex-diretor do Centro de Pesquisas da instituição José Almino de Alencar lamentou as atitudes da gestão federal, lembrou do período em que a cultura ainda era vista com relevância no país e comemorou o movimento em favor da Casa de Rui Barbosa.
“Recordo com saudade dos tempos que viraram agora, a posteriori, gloriosos de Gilberto Gil e Juca Ferreira nas suas administrações do Ministério da Cultura. A Casa de Rui Barbosa recebeu esse reconhecimento público, teve essa mobilização toda nesse momento porque nós vivemos talvez o início de um momento de catarse contra a política na cultura. Parte desse pessoal faz parte de um movimento de insurgência, de reação de grande parte da cultura brasileira para o que está acontecendo”, relatou.
As mudanças na estrutura da instituição pegaram de surpresa os diretores, que não foram comunicados com antecedência das demissões. O estudioso acredita que o caráter conservador do governo tenha influenciado as decisões.
“O gesto, na sua radicalidade, parecia indicar uma questão político-ideológica, ou seja, vocês não vão ficar aqui. Não fomos avisados do ato antes que ele fosse tomado e depois ainda houve nenhuma substituição. Não se sabe nada porque o governo tem se comportado dessa maneira violenta na área da cultura. Tememos que essa disputa ideológica que se dá no país seja transferia para o interior da Casa de Rui Barbosa”, avaliou Alencar.
Um dos sinais do caráter ideologizante das posturas do Palácio do Planalto é a nomeação da afilhada do pastor e deputado Marco Feliciano e roteirista de novelas da Record TV Letícia Dornelles para a Presidência do centro de cultura.
O aparelhamento dos órgãos do setor no âmbito federal não é de hoje. No ano passado, o dramaturgo Roberto Alvim ofendeu a atriz Fernanda Montenegro, chamando-a de ‘sórdida’. Dias depois ele foi nomeado por Jair Bolsonaro para a Secretaria Especial da Cultura.
“Há uma movimentação ambígua e, ao mesmo tempo, atraente para parte da população que é de demonizar a inteligência. Nos idos da Revolução Cultural do Mao (Tsé-Tung, ex-líder do Partido Comunista chinês), os intelectuais da esquerda eram estigmatizados e vestiam uma espécie de carapuça da culpabilidade porque não faziam parte da classe operária, e agora está se revertendo. A direita está mobilizando um discurso anti-intelectual em geral, atacando pessoas que são identificadas como privilegiadas. Isso atrai também os ressentidos intelectuais da direita”, afirmou o sociólogo.
Ouça a entrevista de José Almino de Alencar: