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Frei Betto: “Partidos progressistas se descolaram da base social”

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A crítica que é feita de forma recorrente às legendas ditas de esquerda no Brasil nos últimos tempos a respeito de um afastamento da militância das classes sociais menos abastadas, especialmente nas periferias das grandes cidades, volta com força durante a gestão de Jair Bolsonaro.

 

O processo anômalo que foi iniciado pelo impeachment de Dilma Rousseff, passou pela prisão do ex-presidente Lula e culminou com a eleição do ex-capitão do Exército para a Presidência da República contou com o apoio de estruturas repressivas que se constituíram após o espaço deixado pelos partidos progressistas.

 

O teólogo e escritor Frei Betto ressaltou essa característica atual da sociedade brasileira, citando especialmente o avanço das igrejas, que acabaram se envolvendo na disputa política com seu caráter conservador e levando aos postos de comando representantes com interesses que vão muito além do bem-estar social.

 

“Todos os partidos progressistas cometem a grave falha de não fazer trabalho de base. Talvez seja um dos fatores que explicam porque não há mobilizações nas ruas do Brasil. Os nossos partidos de esquerda se descolaram da base social e, como na física não existe vácuo, todos os lugares são de alguma forma ocupados, os fanáticos cristãos, tanto católicos, quanto neopentecostais, ocuparam esse espaço levando as pessoas a um grave equívoco incentivado pelo governo Bolsonaro que é a confessionalização da política”, avaliou.

 

A análise do especialista em teologia aponta para o perigo do envolvimento entre as convicções religiosas e políticas ao país, algo que remete a experiências de nações asiáticas em guerra por conta de situações semelhantes.

 

“Isso pode dar em fundamentalismo cristão no mesmo caráter do fundamentalismo islâmico no Oriente. É muito grave essa ascensão de uma tendência fundamentalista que não sabe separar religião e política, que são complementares em nossas vidas, mas não podem ser uma subjugada a outra em nível de governo, de Estado. Isso é muito grave”, disse Frei Betto.

 

Uma das exceções a essa lógica de inércia da militância de esquerda foi a mobilização para a saída do ex-presidente Lula da prisão, em Curitiba. O escritor afirmou que o político deixou a sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba disposto a mudar o quadro, em uma atitude combativa que deve ser adotada pela esquerda.

 

“A libertação do Lula foi resultado da pressão do povo brasileiro. O ‘Lula livre’ realmente funcionou mais que o ‘Fora Lula’. As pessoas com pressão, o acampamento que o MST manteve vizinho à prisão, tudo isso teve muita força para pressionar a Justiça a liberá-lo. Gostei muito da disposição com que ele veio, com toda garra, sem abaixar a cabeça e propondo o Brasil se mobilizar diante desse governo fascista. Essa convocação é importante para nós, o que o PT precisa é não ficar preso aos ciclos eleitorais”, lembrou.

 

A atuação repressiva dos aparelhos do Estado foi alvo de críticas do teólogo ao citar a ação da Polícia Militar de São Paulo em um baile funk, em Paraisópolis, que resultou na morte de nove jovens pisoteados após a confusão, onde houve o disparo de bombas de gás, udo de spray de pimenta, além da violência dos agentes contra a população.

 

“Estamos a sete dias de comemorar a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nada mais bárbaro do que a atrocidade cometida pela Polícia Militar de São Paulo, assim como infelizmente as polícias militares de vários estados. Tratam a população como inimiga, suspeita, principalmente a população mais pobre, desempregada, negra. Se fosse uma reunião de três mil pessoas no Ibirapuera, na Praça da Sé, na avenida Paulista, a PM estaria dando segurança, haveria toda uma infra do Estado, mas quando se trata da população periférica, a única atitude que os nossos governos têm é bater, atirar, jogar gás lacrimogêneo”, lamentou.

 

Ouça a entrevista de Frei Betto na íntegra:

 

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