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“Há alinhamento de golpistas em toda América Latina”, acusa Kocher

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A pressão de forças políticas contrárias a Evo Morales culminou com a renúncia do presidente da Bolívia no último domingo (10). Protestos violentos pelas ruas de La Paz exigiam a saída do mandatário após sua recondução ao cargo máximo para um quarto mandato, algo que os opositores, comandado por Carlos Mesa, não admitiam, contestando até mesmo a legitimidade do processo eleitoral.

 

O político reeleito em primeiro turno chegou a convocar, pela manhã, a realização de um novo pleito. Entretanto, o estopim para a crise foi o pedido do chefe das Forças Armadas para que Evo deixasse a Presidência, o que foi classificado por boa parte dos analistas internacionais como o estabelecimento de um golpe de Estado.

 

O diagnóstico foi referendado pelo professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF) Bernardo Kocher. O docente relatou que este não é um panorama exclusivo do país vizinho.

 

“O contexto boliviano não é isolado, há forças internas, disputa política. A longevidade do governo do Evo Morales se tornou insuportável para a elite branca da chamada Meia Lua, parte da Bolívia que é ocupada pelos descendentes de espanhóis. Vejo que o jogo não é exclusivamente boliviano, é latino-americano, é um jogo de ganha aqui, perde ali. Depois da vitória na Argentina de forças de centro-esquerda, da libertação do Lula e da vitória no México desde o começo do ano do presidente López Obrador, creio que foi um ajuste de contas”, ressaltou.

 

“Essa crise não é uma crise espontânea, é uma crise incentivada, financiada. O modus operandi não passa pelos partidos. O segundo colocado, o Mesa, foi colocado de lado, assumiram forças de organizações cívicas que foram financiadas e instrumentalizadas de fora, principalmente pelos Estados Unidos. Mesmo considerando que o governo Evo Morales cometeu erros, um deles foi tentar ficar mais um mandato, creio que estamos defronte a um alinhamento de golpistas em toda América Latina”, destacou o docente.

 

A crítica dos opositores sobre a falta de alternância no poder no país sul-americano se contrapõe, conforme exemplificado por Kocher, à predominância dos liberais no comando da Alemanha. A chanceler Angela Merkel está no cargo desde 2005, enquanto Evo assumiu seu primeiro mandato no ano seguinte.

 

A escalada de violência na Bolívia, onde foram registrados incêndios criminosos na casa de líderes governistas e da irmã do mandatário deposto, provocou também uma renúncia coletiva do vice-presidente e dos chefes da Câmara e do Senado. No vácuo de poder que foi estabelecido, assumiu a Presidência a segunda vice-presidente do Senado Jeanine Añez, opositora do partido Movimento para o Socialismo (MAS), até então no governo.

 

O professor da UFF lembrou que não havia sinais de uma aliança dos militares com os ultraliberais e neopentecostais, principais forças propulsoras do golpe na Bolívia, já que Evo se reuniu com a cúpula das Forças Armadas na última semana. Com isso, se inicia um novo momento no quadro político do país.

 

“Agora começa a segunda luta, que é a luta da narrativa. Tem de ser afirmado diariamente que foi um golpe, golpe em Honduras, no Brasil, na Bolívia, no Paraguai, golpes que estão se espraiando mundo afora. Na América Latina, estão se generalizando”, disse Kocher.

 

Ouça a entrevista de Bernardo Kocher na íntegra:

 

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