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Kocher atribui avanço da direita a processo iniciado nos anos 1970

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As pautas econômicas liberais, ditas de direita no espectro político e que privilegiam o grande capital em detrimento às populações de baixa renda, vêm ganhando protagonismo em todo mundo. Prova disso é a eleição de presidentes como Donald Trump, nos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, no Brasil, além de lideranças parlamentares na Europa, como o Reino Unido do premiê Boris Johnson.

 

A ascensão deste campo ideológico no planeta, apesar de parecer um fenômeno recente, remete ao final da década de 1970. Essa é o diagnóstico do professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) Bernardo Kocher.

 

“É um processo de longuíssimo prazo, que dou como data de partida 1979 quando da crise do modelo econômico simbolicamente chamado, no caso da América Latina, de desenvolvimentismo, que era pautado no bem-estar social, na produção industrial, nas políticas públicas, no controle macroeconômico. Esse organismo chegou a um ponto que não se sustentava naquelas bases e os Estados Unidos tomaram a decisão histórica do choque dos juros e, a partir daí, já se vão 40 anos de mudanças contínuas em torno de um eixo que a gente pode chamar de financeirização contínua da economia crescente, modificações da estrutura produtiva, revogação de direitos, todo um conjunto de reformas que vivemos”, considerou.

 

O docente destacou que esse processo é agravado nas periferias por decisões econômicas dos principais atores globais do modelo capitalista, destacando-se os Estados Unidos, países da Europa Ocidental, o Japão e a mais recente potência que desponta no cenário geopolítico.

 

“A China também se industrializou por um caminho próprio, que não vai se aplicar na América Latina com facilidade. Esse processo fragilizou as identidades coletiva e social da classe operária como um todo porque a palavra classe remete a grupo. Quando as classes têm direitos, os grupos têm direitos e uma fragilização econômica da classe mais combativa com a diminuição do número de operários em relação à população como um todo, da produção industrial em relação ao PIB, que migrou para serviços, commodities e outras coisas, acabou criando uma situação da crise política. A crise migrou do econômico para o político e os partidos de esquerda pagaram o pato”, citou.

 

As legendas progressistas, para Kocher, se afastaram de seu caráter popular e, afetadas pela derrocada do berço do socialismo no planeta, se aproximaram das políticas consideradas neoliberais.

 

“A crise da União Soviética acabou por derrubar um conjunto de valores e práticas econômicas que foram sendo acumuladas desde o século XIX. Apesar de tudo, algumas coisas foram conseguidas na América Latina e mesmo na Europa nesse começo de século com muita dificuldade, mas a crise, em 2008, se acentuou mais uma vez. É uma crise que vai subindo degraus, não é como a de 1929 que veio toda de uma vez e em poucos meses entrou direto nas economias capitalistas. A crise atual vai galgando um pouco a cada tempo, e os partidos de esquerda, pela sua fragilidade e vacilo ideológico, não aplicam políticas macroeconômicas, não conseguem construir uma identidade junto à classe trabalhadora, acabam ficando iguais aos partidos de direita”, encerrou o professor da UFF.

 

Ouça a entrevista de Bernardo Kocher:

 

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