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O Sínodo da Amazônia, iniciado esta semana no Vaticano, tem por objetivo não apenas defender a preservação da floresta e dos povos que nela subsistem. A intenção da igreja católica é estabelecer uma mudança de paradigma na sociedade capitalista, valorizando mais o planeta e a sociedade.
Essa é a avaliação do sociólogo, presidente do Instituto de Estudos da Religião (Iser) e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ivo Lesbaupin. Ele justifica sua análise a partir das resoluções da encíclica episcopal Laudato si’, escrita pelo Papa Francisco em meados de 2015.
“A Laudato si’ foi muito valorizada fora do ambiente propriamente eclesiástico. Não foi só a comunidade católica que se interessou em ter uma difusão maior. A encíclica assume as denúncias que os cientistas estão fazendo, os avisos que estão dando de que se esse sistema continuar assim, a humanidade vai acabar”, destacou.
“Essa opção feita na Laudato si’, em que se desdobra o Sínodo, leva a outro tipo de igreja, muito mais comprometida com a transformação social, com a defesa das maiorias que estão sendo exploradas e assim por diante”, prosseguiu o docente.
A encíclica elaborada pelo Papa argentino faz uma crítica contundente ao modo capitalista de desenvolvimento das sociedades, priorizando a acumulação de valores materiais e deixando de lado os conceitos básicos descritos no evangelho, que pregam o amor ao próximo e o entendimento entre os povos.
“A Laudato si’ explica que esse tipo de economia que estamos vivendo atualmente, ele não denomina neoliberalismo, ela mata. Ela é feita de tal maneira baseada na exploração do trabalho e na suspensão das políticas públicas de saúde, educação, trabalho, emprego e assim por diante, e destrói a sociedade, gerando uma desigualdade enorme. Aqui estamos tendo nos últimos anos uma concentração de renda cada vez maior nas mãos de poucos e o aumento exponencial da pobreza e da miséria”, assinalou Lesbaupin.
O presidente do Iser fez questão de lembrar que este processo segue a todo vapor no Brasil, onde o nível de miserabilidade cresce exponencialmente, fundamentado na irresponsabilidade e no egoísmo das classes dominantes.
“Parece que há um projeto para impedir o desenvolvimento das políticas públicas, que foi o grande desenvolvimento do capital depois da Segunda Guerra Mundial. Agora você está com o capital inteiramente liberado para explorar ao máximo sem atender as necessidades das pessoas. Isso está fortemente presente na Laudato si’, tanto que ela fala que o grito das terras é o grito dos pobres”, encerrou.
Ouça a entrevista de Ivo Lesbaupin:
Entrevista em 09.10.2019