A luta antimanicomial no país aparece nas mais diversas expressões, e o carnaval não fica fora neste processo de conscientização. Prova disso é o bloco Loucura Suburbana, que completa este ano seu 20º desfile pelas ruas do bairro do Engenho de Dentro, onde está localizado o Instituto Nise da Silveira, palco da concentração para os foliões.

Desta vez, o tradicional cortejo vai homenagear a Amazônia, alvo de desmatamento e da cobiça do agronegócio, comandados pela gestão de Jair Bolsonaro. Além disso, uma folclórica expressão do bairro carioca será lembrada pelos integrantes.

A psicóloga e coordenadora do bloco Ariadne Mendes celebrou a realização do desfile e a resistência do grupo, destacando que o processo de preparação não se resume aos dias que que antecedem o carnaval.

“É um motivo especial porque é o 20º desfile. É bem cabalístico porque já são 20 carnavais e no dia 20 de fevereiro de 2020. Como em todos os anos, a organização já começou há algum tempo fazendo as roupas do mestre-sala e da porta-bandeira, fizemos a escolha do samba, escolhemos o ‘Loucura que afeta todos nós’. Esse ano estamos fazendo uma homenagem à Amazônia na roupa da porta-bandeira e tem uma novidade, que é o Bloco do Germano. Conseguimos realizar uma oficina e uma exposição dos bonecos do Germano, que também é uma tradição do Engenho de Dentro que estava se perdendo”, destacou.

A representante do Loucura Suburbana se refere a um famoso apontador do jogo do bicho do subúrbio do Rio de Janeiro, que fabricava bonecos gigantes, semelhantes aos do carnaval de Olinda, no Recife.

“Como um morador do Engenho de Dentro, o Germano tinha essa cultura carnavalesca tão potente e uma verdadeira escola de bonecos. Eles saíam em grupo pelo bairro e era uma tradição o desfile. À medida que o Loucura foi crescendo, tivemos contato com os moradores e ficamos sabendo dessa história do bairro”, citou Ariadne.

Mesmo que o bloco não se caracterize como de protesto, o Loucura Suburbana, em 2020,  faz um alerta para o desmonte da rede de apoio à saúde mental no município, que passa pelo desligamento de profissionais da área.

“O Loucura é um bloco da alegria, do subúrbio e de celebração de um trabalho da saúde mental. Estamos vivendo um momento muito especial e grave. Esse ano o Loucura vai ter espaço também de protesto porque foram demitidas 2 mil pessoas ligadas à saúde mental e da família, alguns CAPS (Centros de Apoio Psicossocial) pararam de funcionar, estão com atendimentos noturnos suspensos e as equipes vão ser substituídas por profissionais concursados que não têm vínculo com a população. Temos de reforçar que é muito grave tirar essas pessoas. A saúde mental e da família se constroem através de vínculos, é assim que chegamos à cura”, sinalizou a psicóloga.

O desfile do Loucura Suburbana acontece na próxima quinta-feira (20), com concentração a partir das 16h em frente ao Instituto Nise da Silveira, que fica na rua Ramiro Magalhães, 521.

Ouça a entrevista de Ariadne Mendes:

;