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Maringoni: “Esquerda quando desvia de objetivos, colhe frutos amargos”

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A tragédia que o país atravessa sob o comando de Jair Bolsonaro e das elites que viabilizaram sua chegada ao Palácio do Planalto foi provocada por uma conjunção de fatores. Parece claro, no entanto, que a ascensão dos ideais neoliberais ao poder tem parcela importante de contribuição das políticas erráticas, especialmente de caráter econômico, implantadas pelos governos petistas.

 

Esta tese é defendida pelo professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC Gilberto Maringoni. Ele ponderou que a crise de vagas no mercado de trabalho por conta dos erros de avaliação da ex-presidente Dilma Rousseff impulsionou a insatisfação de parte da população.

 

“O governo Dilma colocou o desemprego em 11,6%, saindo de um patamar no final de 2014 de 6%, ou seja, quase pleno emprego. Dobrou esse percentual. Por isso a catástrofe do governo Dilma, esse programa econômico. Não podemos ficar achando que existe uma maldição contra a esquerda. A esquerda, quando se desvia do seu objetivo, que é promover o bem-estar para a população, colhe frutos muito amargos, e não é só a esquerda, é o país inteiro como estamos vendo agora”, citou.

 

O docente ressaltou que o processo pelo qual o Brasil passa é repetido por Mauricio Macri, na Argentina, presidente ameaçado de não se reeleger em outubro, abrindo espaço para a volta de Cristina Kirchner ao governo.

 

“Estava confrontando os dados do governo Macri, que vai perder as eleições daqui a três semanas. A maior catástrofe na Argentina, que é a pobreza, atinge um terço do país e o desemprego está em 10,6% da população economicamente ativa, quer dizer, das pessoas que têm idade para trabalhar. O governo Macri tem menos desemprego do que tinha o de Dilma e vai perder as eleições”, lembrou Maringoni.

 

A postura dos partidos ditos progressistas no Brasil, aliás, também foi alvo de críticas do professor da Universidade do ABC, ao destacar as proposições das legendas para modificar o panorama de desmonte imposto ao Estado brasileiro.

 

“Se você olhar as páginas dos partidos na internet e procurar os programas de cada um, é uma coletânea de generalidades, da melhoria de vida para a velhice, da condição de cada um, do meio ambiente, mas nenhum entra no que fazer agora. Ficamos muito tempo viciado nisso, vêm as eleições e depois vemos o que fazer. Depois ver no que vai dar fez a Dilma, que se elegeu e chamou quem estava mais à mão, o [ex-ministro da Fazenda] Joaquim Levy, e dá carta branca a ele para fazer o que quer”, disse.

 

SITUAÇÃO NO PERU

O especialista em Relações Internacionais também avaliou a situação no Peru, onde o presidente Martin Vizcarra dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições para 2020. Em reação, o Congresso suspendeu temporariamente o mandatário de suas funções e nomeou a vice Mercedes Araóz ao cargo. Entretanto, a substituta renunciou ao cargo na sequência.

 

A situação anômala, na análise de Maringoni, que permite o Parlamento desmanchado pelo Executivo destituir o presidente eleito, se dá por conta de uma dubiedade na Carta Magna do país sul-americano.

 

“O que aconteceu é que o Congresso quis nomear seis ministros da Suprema Corte peruana, o Tribunal Constitucional, que eram claramente ligados à oposição fujimorista e causariam sérios problemas ao governo. O Martin Vizcarra viu isso como voto de desconfiança do Congresso e dissolveu o Legislativo e o que está agora se discutindo é a legalidade ou não desses termos”, relatou.

 

“A Constituição peruana tem um híbrido de uma grande dose de características parlamentaristas nos seus artigos. Então o presidente, diante de um voto de desconfiança e que é próprio do regime parlamentarista, pode dissolver o Congresso e convocar novas eleições, e o regime no Peru é presidencialista. Se você procurar a Constituição peruana, dar uma olhada nos artigos 130 a 134, dá para ver esse hibridismo que vem da Constituição de 1993, do [Alberto] Fujimori, mas que pega a dos anos 1970, na tentativa de fazer um arranjo tendo minoria no Congresso e poder de dissolvê-lo”, concluiu Maringoni.

 

Ouça a entrevista de Gilberto Maringoni na íntegra:

 

 

Entrevista em 02.10.2019

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