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“Relação entre política e crime é organizada”, avalia Nildo Ouriques

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O Brasil tem apresentado nos últimos tempos um quadro de crescente associação entre as atividades da política institucional e o crime organizado. Não raro as páginas policiais dos jornais se confundem com o noticiário dos três Poderes da República. Exemplos clássicos são os escândalos de corrupção que levaram à prisão figuras do alto escalão do Executivo e do Legislativo.

 

No entanto, essa relação tem extrapolado os interesses estritamente financeiros e vitimado pessoas que representam os estratos mais vulneráveis da população, como é o caso dos assassinatos da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes.

 

Crítico contumaz dessa lógica, o professor de Economia e presidente do Instituto de Estudos Latino Americanos (IELA) da Universidade Federal de Santa Catarina Nildo Ouriques alertou para a proximidade entre tais ações no país, refletida na experiência individual do cotidiano das grandes massas.

 

“A relação entre política e crime, embora o pensamento liberal tente sempre dissociar ambas as coisas, está em larga medida organizada. No caso brasileiro, as relações estão a cada dia se revelando mais do que evidências, está na boca do povo um conjunto de considerações perigosíssimas, que mostram a degradação da política e a aproximação dessa relação com o crime”, avaliou.

 

“A política não é uma dívida atividade republicana em que todos exibem suas virtudes, pelo contrário, em períodos de decadência política e crise econômica, o crime é uma atividade política republicana. Sempre tive comigo um bordão, quando alguém diz que vai me destinar um tratamento republicano, sempre tremo na base porque o tratamento republicano aqui, desde que a República começou, é uma arma contra as maiorias”, continuou o economista.

 

O anúncio da prisão na última terça-feira (12) dos executores do crime que completa um ano amanhã, o sargento reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, evidencia o caráter promíscuo do vínculo entre a política e a criminalidade.

 

“A imprensa registrou a relação dessas figuras com o mundo das corporações policiais e, portanto, com o Estado, e o Estado é a República. Está cada vez mais evidente essa relação no Brasil e não creio que é um dado passageiro, mas sim um dado constitutivo da República tal como nós a conhecemos e creio que uma função fundamental da esquerda, da opinião pública em geral, é combater de maneira clara essas relações que são perigosas para todos porque a República funciona bem para as classes dominantes, não para as subalternas”, considerou Nildo.

 

A falência das políticas de segurança pública no país, que amplia a demanda por estruturas privadas, potencializa o panorama de desordem institucional, de acordo com o presidente do IELA.

 

“Há algo que passou muito sutil, mas que é um fenômeno nacional e no Rio de Janeiro muito evidente, que é o fato de que ex-PM’s, coronéis, majores, se transformaram em empresários de segurança. Em primeira mão isso não teria mal em si mesmo, o problema existe quando é um fenômeno nacional e quando muita gente enriquece com segurança privada, precisamente aqueles que promovem a política de austeridade no Estado, que é menos investimento na saúde, educação, ciência, tecnologia, cultura e segurança. Há uma simbiose geral na relação dessas corporações e ex-dirigentes e a acumulação de riqueza”, concluiu.

 

Ouça a entrevista de Nildo Ouriques na íntegra:

 

 

Entrevista em 13.03.2019

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