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“Unidade agora é só na luta”, avalia Ciro sobre coalizão progressista

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Uma das figuras centrais do último processo eleitoral brasileiro, o ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) despertou paixão e ódio entre os militantes de esquerda no país. Tido como alternativa ‘viável’ a derrotar Jair Bolsonaro no segundo turno do pleito por parte dos eleitores, o político se afastou do debate após o revés inicial nas urnas e declinou de um apoio formal ao candidato petista Fernando Haddad.

 

A postura de embate ao Partido dos Trabalhadores provocou surpresa em alguns, mas é encarada com normalidade pelo ex-governador do Ceará, ao lembrar as decepções que teve com a legenda de Luiz Inácio Lula da Silva durante o período em que apoiou os candidatos da agremiação.

 

“Não participei da campanha porque não aceito mais passar pano. Já passei pano por 21 anos e parece que a gente não vale nada, e eles [PT] colidem com a moral popular”, ressaltou.

 

Avesso à possibilidade de uma aliança com o partido enquanto a “direção apodrecida” estiver no comando, Ciro considera apenas uma alternativa no embate político ao governo entreguista do ex-capitão do Exército:

 

“Minha aposta é construir a unidade na luta. Sob o ponto de vista eleitoral, acho que não é hora de fazer cálculo porque se reproduzirmos essa aliança despolitizada de uma tal frente de esquerda, seremos apenas saco de pancada do bolsonarismo, mesmo sem o Bolsonaro”.

 

Leia abaixo alguns trechos da entrevista de Ciro Gomes, que esteve nos estúdios do programa Faixa Livre:

 

CAMPANHA ELEITORAL 2018

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Ciro Gomes e Passarinho

“Saio feliz e frustrado. Frustrado porque o Brasil tem um problema gravíssimo, muito complexo, que é de natureza estratégica, não se trata de trocar Chico, Maria ou Manuel por João, Pedro ou Rita. É um problema de modelo, mas temos 10 portas de saída. Algumas estão sendo fechadas muito rapidamente por esse governo desastrado que temos, mas o Brasil, como raríssimos países do mundo em desenvolvimento retardatário como o nosso, tem saída.

 

Fico muito indignado em ver o país tendo tantas chances, tão extraordinário, e o problema se agravando. De outro lado, saio com muita gratidão, esperança, porque fui o candidato que era o segundo voto de todo mundo. Saí com a menor rejeição de todos, acho que ficou mais ou menos evidente que havia uma proposta, uma pessoa treinada, uma vida limpa, porque isso não é vantagem que se conte para nada, mas em um país desastrado como o nosso, é muito honroso ter passado por mais uma campanha nacional”

 

AUSÊNCIA NO SEGUNDO TURNO

“Não me arrependo, embora tenha sido uma decisão muito traumática, difícil de tomar porque tenho muita informação, conheço a vida e não me guio por essas superficialidades. O Brasil basicamente está sofrendo o que está sofrendo porque a política foi substituída pelas paixões, pelo ódio, ninguém para mais para pensar, ninguém mais reflete.

 

O Brasil passionalizou-se e o PT é muito responsável por isso, não é só pela corrupção que se generalizou. O Palocci é réu confesso, você tem o Genuíno preso, O Zé Dirceu preso, isso não é só a corrupção chocante, mas é o desastre econômico. O Brasil está há 27 trimestres aprofundando a desigualdade. Ora, se você puxa 27 trimestres para trás, dá no desastrado governo da Dilma, e não dá para fazer de conta que isso não aconteceu. Se a gente fizer de novo, passar pano, ficar com pena como a gente tem…

 

Tenho dó do desastre que aconteceu com Lula, mas o que vai acontecer é que vamos entregar o Brasil para essa gente, ou alguém acha que o Bolsonaro existiria sem essa contradição do PT? Não existiria, e dizia o Millôr Fernandes, ‘quando a presença de espírito não consegue resolver uma situação delicada, apele para a ausência da matéria.

 

Minha opinião era insuperável em relação ao PT, votei, mas não participei da campanha porque não aceito mais passar pano. Já passei pano por 21 anos e parece que a gente não vale nada, e eles colidem com a moral popular. Para mim, nunca mais voto enquanto o PT for governado por essa quadrilha de bandidos e neoliberais. O que está afundando o Brasil é esse neoliberalismo que foi implantado com muita força pela cooptação que o PT fez de tudo que era sociedade civil organizada no país”.

 

DISCORDÂNCIAS COM O PT

“Minha confrontação é com uma burocracia empobrecida, envelhecida e alienada da vida brasileira que hoje toma conta do PT. Tudo que o PT projeta hoje é Lula livre, porque eles são presas de uma equação de culto à personalidade, já não há mais política ali. Não estou querendo dizer que não seja triste termos um ex-presidente da República preso, em condições de juridicidade bastante questionáveis, mas o fato é que a agenda do país foi fraudada pelo PT. Vamos voltar a 2018, quando até as pedras do caminho sabiam que pela Lei da ficha limpa, que o Lula colocou em vigor, ele não poderia ser candidato.

 

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Ciro Gomes no Faixa Livre

Ele frauda totalmente a opinião pública brasileira, despudoradamente se apresenta como candidato de dentro da cadeia, evidentemente sabendo que não seria candidato, manipula um sentimento de gratidão, bem querência, que boa parte do povo brasileiro ainda tem, passionaliza o ambiente e recruta nesta fraude para ser candidato, mesmo sendo uma boa pessoa, o Haddad, cuja experiência política anterior tenha sido perder as eleições na reeleição de prefeito de São Paulo em todas as urnas.

 

O Lula queria repetir o fenômeno de jogar a popularidade generosa que se dá a ele em cima de postes para ele continuar mandando de fora. Isso não tem nada de esquerda, é o velho populismo, caudilhismo sul-americano. O esquerdismo do PT ficou na retórica”.

 

UNIDADE NA ESQUERDA

“Minha aposta, que é absolutamente temerária, é construir a unidade na luta. Sob o ponto de vista eleitoral, acho que não é hora de fazer cálculo porque se reproduzirmos essa aliança despolitizada de uma tal frente de esquerda, seremos apenas saco de pancada do bolsonarismo sem o Bolsonaro. O Bolsonaro é tão trágico que o [João] Doria, esse oportunista farsante, já está esculhambando, que o [Wilson] Witzel faz essa palhaçada de descer comemorando feito um macaco no meio de uma ponte, porque está todo mundo vendo o bolsonarismo sem o Bolsonaro.

 

Aproveitaram essa onda de ódio que o PT despertou no país, mas esse movimento de direita, entreguista, orgânico, vai reinar no Brasil enquanto reproduzirmos esta burrice que é o culto à personalidade, despolitizado, e o enfrentamento identitário, porque as grandes questões, não temos mais coerência para defender. Eu tenho, quem não tem mais coerência para defender as grandes questões é a burocracia do PT”.

 

REFORMA DA PREVIDÊNCIA

Eu dizia na campanha que a Previdência Social é um problema grave, que nós precisávamos construir uma solução para ela, porque adotamos só no Brasil, Argentina e Venezuela um sistema de repartição. Para esse sistema funcionar, é preciso de duas pernas: uma é a demografia jovem. Quando esse sistema foi montado, tínhamos oito trabalhadores ocupados para financiar um aposentado que só vivia 60 anos. Hoje estamos com um e meio trabalhador ocupado para financiar um aposentado com expectativa de vida de 73 anos.

 

A segunda perna é uma grande informalidade no mercado de trabalho. No primeiro governo da Dilma, estávamos com 55 milhões de carteiras assinadas no Brasil, hoje temos 33 milhões, é o verdadeiro genocídio do emprego, é a informalização feita como política de governo.

 

A minha proposta começa em um pilar social de acesso universal e incondicional para todo brasileiro que, podendo ou não contribuir, receberá do Estado como política de renda mínima um salário mínimo. O segundo pilar é um regime de repartição com um teto, em direção a uma Previdência para todos, civis, militares, serviço público, privado, com os tempos de transição necessários, ao redor de R$ 5 mil. Ele vai pegar 84,7% de todos os trabalhadores brasileiros, e somente por fim, complementar e crescente, por adesão voluntária, um sistema de capitalização público sob controle dos trabalhadores e contribuição patronal, completamente diferente do que o Paulo Guedes propôs”.

 

Ouça a entrevista de Ciro Gomes na íntegra:

 

 

Entrevista em 21.08.2019

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