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Editorial – 08.07.2021

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O ex-diretor do Ministério da Saúde, o senhor Roberto Dias, esteve ontem (07) prestando depoimento à CPI da Pandemia e negou toda aquela história de que teria cobrado US$ 1 de propina na compra de cada uma das doses de vacinas Covaxin, conforme denunciou o policial Luiz Paulo Dominguetti.

 

Aliás, até mesmo o encontro entre os dois em um restaurante de Brasília no mês de fevereiro teria se dado de maneira incidental, sem qualquer planejamento, enquanto ele tomava um chopp com um amigo. Quem teria levado o policial ao encontro dele seria o coronel Marcelo Blanco, que também atuou no Ministério da Saúde.

 

Dias ressaltou que foi demitido do cargo por um “fato esdrúxulo e inexistente”, e que sua saída interessava ao deputado Luís Miranda, que denunciou o episódio. Esse novo show de mentiras que se deu na comissão resultou em um pedido de prisão do ex-diretor do Ministério por perjúrio, ou seja, mentir sob juramento, em ordem do presidente da CPI Omar Aziz. Apesar do apelo dos demais senadores, lembrando que todos os que passaram por ali como depoentes faltaram com a verdade, Aziz manteve a ordem e Roberto Dias deixou a sala detido.

 

Resta saber se esse gesto do senador vai favorecer a retórica do governo de que há perseguição política na CPI. Independente desse caso, de toda essa história, parece que dá para se tirar uma conclusão.

 

Há dois grupos mafiosos disputando o controle do Ministério da Saúde: um deles é liderado pelo deputado Ricardo Barros, desde a gestão do ex-presidente Michel Temer, quando foi ministro, e tem como um dos auxiliares o próprio Roberto Dias, indicado pelo ex-deputado Abelardo Lupion (DEM-PR), como o próprio ex-diretor admitiu à comissão do Senado.

 

A outra facção seria composta justamente pelos militares, liderados pelo senhor Élcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério, Dominguetti, esse tal reverendo Amilton Gomes de Paula, que negociava imunizantes representando a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários, entidade privada, além de outras figuras do mesmo quilate.

 

Enfim, de toda forma, fica claro que os interesses públicos em relação ao Ministério da Saúde estão em disputa por máfias, uma que já existia e outra levada por Jair Bolsonaro. É isso que as instituições precisam investigar e punir. A grande questão é se há interesse em se desmontar esse tipo de organização criminosa atuando dentro do Estado brasileiro. Quem mais está ganhando com tudo isso?

 

Por falar em máfia, eu quero aproveitar para fazer a leitura da coluna do jornalista Bernardo Mello Franco, publicada ontem no jornal O Globo, onde ele fala a respeito de um esquema vantajoso e espúrio do qual a família do presidente da República se alimenta há anos. O título do texto é “Bolsonaro transformou rachadinha em negócio de família”

 

Os Bolsonaro transformaram a atividade parlamentar num negócio de família. Pai e filhos penduraram dezenas de assessores fantasmas em seus gabinetes. A turma fingia que trabalhava e repassava a maior parte dos salários ao clã.

 

O Ministério Público já havia comprovado os desvios no escritório de Flávio Bolsonaro, denunciado por organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro. Agora uma nova gravação situa o presidente no topo do esquema.

 

Andrea Siqueira Valle passou duas décadas como funcionária de Jair Bolsonaro na Câmara. Em áudio revelado pelo UOL, ela admite que participava da “rachadinha”. Ficava com 10% do salário e devolvia o resto ao então deputado.

 

A fisiculturista é irmã de Ana Cristina Siqueira Valle, segunda mulher do capitão e mãe do jovem lobista Jair Renan. Durante o casamento, ela comprou 14 imóveis, parte deles em dinheiro vivo.

 

A ex-cunhada conta que Bolsonaro comandava a arrecadação clandestina e chegou a demitir um de seus irmãos. O rapaz também recebia sem trabalhar, mas não devolvia a quantia combinada. “Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo’’’, diz Andrea.

 

A gravação ainda acrescenta um novo personagem à trama: o coronel Guilherme Hudson, colega do presidente na Academia Militar. Segundo a fisiculturista, ele era um dublê do ex-PM Fabrício Queiroz. Levava os fantasmas ao caixa eletrônico e recolhia as contribuições em espécie.

 

Esta não é a primeira vez que Bolsonaro aparece como beneficiário da rachadinha. O MP já havia descoberto que Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da primeira-dama. O procurador Augusto Aras não quis investigar o caso, e o Supremo decidiu arquivá-lo nesta semana.

 

A inconfidência da ex-cunhada também deve empacar na Justiça, já que o presidente não pode ser processado por crimes anteriores ao mandato. Mas tem potencial para danificar ainda mais a imagem do “Mito”, que passou a ser chamado de corrupto nos atos pró-impeachment.

 

Eleito com discurso moralista, Bolsonaro ensinou aos filhos uma das fórmulas mais rasteiras de embolsar dinheiro público. O escândalo das vacinas sugere que ele só demorou a se envolver em rolos maiores por falta de oportunidade”.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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