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Editorial – 12.05.2021

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A CPI da Pandemia, no Senado, deu sequência ontem (11) à série de depoimentos que vem colhendo e dessa vez foi ouvido o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Antônio Barra Torres, com declarações que, mais uma vez, mostraram a irresponsabilidade que reina na gestão de Jair Bolsonaro.

 

O médico, que também é militar da Marinha, confirmou a ocorrência de uma reunião no Palácio do Planalto, no ano passado, para discutir a mudança na bula da cloroquina. O encontro já havia sido denunciado pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta na última semana.

 

De acordo com Barra Torres, participaram da tal reunião, além dele, o general Braga Neto, então ministro da Casa Civil, o próprio Mandetta, a médica Nise Yamaguchi, que é consultora informal do presidente Jair Bolsonaro, e um outro médico, do qual não se recorda. O presidente da Anvisa disse também que não sabe de quem partiu a ideia para alterar a bula da cloroquina, recomendando seu uso para tratamento da Covid-19, mas ressaltou que prontamente rechaçou a proposta, visto que estudos científicos mostram que o medicamento não tem qualquer eficácia contra a doença.

 

Além disso, segundo o médico, apenas a agência reguladora do país pode modificar a bula de um medicamento, isso desde que seja solicitado pelo fabricante do produto.

 

Ele destacou também que discorda de algumas posturas do chefe do Executivo em relação à pandemia, como o não uso de máscaras e o incentivo às aglomerações, como a que ocorreu no último domingo, quando o presidente participou de um encontro de motociclistas, em Brasília.

 

Sobre as vacinas, o dirigente da Anvisa garantiu que não houve qualquer preciosismo em relação ao indeferimento do uso da russa Sputinik V, tampouco da indiana Covaxin. Barra Torres relatou que as duas vacinas não apresentaram os requisitos necessários para obterem o sinal verde da Anvisa. A CPI seguirá ouvindo depoimentos hoje e amanhã e ao longo das próximas semanas, mas uma coisa fica clara: o acúmulo de crimes cometidos por Jair Bolsonaro durante a crise da pandemia. Seguiremos aqui no programa de olho nessa CPI e nas principais novidades que os depoimentos podem nos trazer.

 

Eu gostaria de aproveitar esse espaço editorial também para ler um belo artigo do Frei Betto, publicado pelo jornal Folha de S. Paulo na última segunda-feira (10), onde ele fala justamente sobre a Covid-19 e a responsabilidade dos gestores públicos neste cenário de caos. O título do texto é “Resta-me humanidade?”:

 

Todos os dias, na oração da manhã, me pergunto: resta-me humanidade?  Como posso suportar, recluso em casa, que lá fora morreram, por descaso do governo, mais de 400 mil pessoas no Brasil? E mais de 14 milhões de infectados não sabem o futuro que os aguarda – se a cura, se as sequelas, se a morte.

 

O que faz meu grito ficar parado no ar, a gota d’água não entornar minha paciência, a esperança me fazer acreditar que serei poupado do genocídio? Como fazer parar a máquina da morte? Como dar um basta ao negacionismo que alimenta essa política necrófila que vitimiza, indiscriminadamente, ricos e pobres, idosos e jovens, portadores de comorbidades e saudáveis atletas?

 

Mais de 400 mil mortos! Não ouço os sinos tocarem por eles. Vejo apenas múltiplas mãos encharcadas de sangue se lavando, ponciopilatamente, na bacia do mais escancarado cinismo. A dor de mais de 400 mil famílias não dói em mim. O que me resta de humanidade?

 

Na Guerra do Paraguai, o Brasil perdeu 50 mil combatentes. Em pouco mais de um ano deixamos a pandemia multiplicar esse número por oito. Porque?  Talvez por não presenciar o desespero de quem bate em vão as portas dos hospitais desprovidos de leitos, nem o indescritível sofrimento de quem, entubado e sem receber analgésicos, conhece no corpo as infinitas dores das torturas medievais.

 

Na guerra do Afeganistão, ao longo de 14 anos (2001-2015), 149 mil vidas foram perdidas. Aqui, em 14 meses, esse número foi multiplicado por três. Como admitir tamanha mortandade? Por ter como causa um vírus invisível?

 

Não, o vírus não age sem que humanos o transmitam. O vírus é como uma bomba atômica jogada sobre Hiroshima e que ceifou 140 mil vidas. A bomba não viajou sozinha dos EUA ao Japão. Foi conduzida por uma aeronave B-29. Cada um de nós é uma aeronave que transporta o vírus letal. Cada um de nós é potencialmente um míssil carregado de artefatos nucleares. Basta abrir a boca e as narinas para detonar os projéteis que haverão de semear a morte alheia.

 

Em 1912, o Titanic, navio invencível, foi vencido por um iceberg.  Morreram mais de 1.500 passageiros. Aqui no Brasil já afundaram 266 Titanic e ainda há quem não enxergue a cor rubra do mar…

 

As quedas das Torres Gêmeas de Nova York soterraram 2.996 pessoas. O mundo parou, estupefato, frente à tamanha atrocidade. Até os dicionários religiosos suprimiram a palavra perdão. No Brasil já desabaram 134 Torres Gêmeas e ainda não foram apontados os responsáveis por esse terror.

 

Resta sim, humanidade, mas preciso beber no poço aberto por Santo Agostinho, o da indignação, para protestar, e o da justiça, para mudar esse estado de coisas”.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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