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Editorial – 16.07.2021

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Tem me chamado atenção na CPI da Pandemia a maneira como os senadores aliados do governo têm lutado com todas as suas forças para evitar que se amplie a quebra de sigilos bancário e telemático dos investigados pela comissão, suspeitos de participarem de escândalos de corrupção na aquisição de vacinas contra a Covid-19. É impressionante a dedicação de parlamentares como Marcos Rogério (DEM-RO) e Fernando Bezerra (MDB-PE).

 

Isso se deu ontem (15), durante o depoimento de Cristiano Carvalho, vendedor da empresa Davati Medical Suply, de maneira muito intensa. Cada vez fica mais evidente que aquele clássico ‘siga o dinheiro’ tem tudo para funcionar e apontar quem seriam os beneficiados nessa tentativa de se desviar recursos públicos para compra de imunizantes. Precisamos seguir na cobrança, acompanhando os trabalhos da CPI.

 

Bom, mudando de assunto, como vocês sabem, eu tenho me dedicado aqui, essa semana, a tentar traçar um panorama o mais amplo possível de todas as condicionantes que envolvem essas manifestações em Cuba no último domingo, e hoje eu quero fazer a leitura de um artigo elaborado pelo historiador e comentarista nosso aqui no Faixa Livre, o Jones Manoel, e publicado nas suas redes sociais, onde ele fala sobre o papel da China diante da ilha, especialmente por conta de críticas que têm sido feitas ao país asiático, cobrando uma ação humanitária mais intensa. Diz o Jones:

 

A China é o principal destino das exportações cubanas (com mais que o dobro de valor que o 2° país) e o 2° maior parceiro das importações cubanas. Por qualquer critério, a China já é um país fundamental para sobrevivência da economia cubana. Uma olhada nos números mostra a China em 1° lugar nas exportações cubanas – forma de conseguir divisas – com valor de $ 461 milhões e a Espanha, o 2° país com $127 milhões. Como devem imaginar, a China poderia comprar o que compra de Cuba de outros parceiros de forma mais barata e com menos problemas logísticos.

 

A China já perdoou bilhões de dívidas de Cuba, como o valor de 6 bilhões em 2011 e oferece crédito a um país bloqueado no sistema de pagamentos e financeiro internacional (controlado pelos EUA e Londres). O problema dos meios de pagamento não é pequeno e um detalhe. Se você olhar o mapa dos principais parceiros cubanos em exportação e importação, vai perceber uma coisa estranha: o peso grande da Europa, Rússia e China. Por que não tem destaque os países da América do Sul? Por causa do bloqueio econômico e todas as suas consequências.

 

A União Europeia, poderosa como é, é constantemente atacada pelos EUA e empresas de capital espanhol, por exemplo, são assediadas e pressionadas direto a suspender qualquer negócio com Cuba. Para ter uma ideia da dimensão do problema, um exemplo. Um navio que atracar num porto cubano pode nunca mais ter autorização para entrar em qualquer porto dos EUA. A economia cubana não tem escala para suprir o fechamento ao mercado dos EUA. Fazer negócios com Cuba, em muitas dimensões, é uma atividade quase de guerra e secreta.

 

A maioria das empresas chinesas não podem perder o acesso total ao mercado e cadeias de valor dos EUA. Isso colocaria em risco de falência várias empresas. Aliado a isso, algo simples, como Cuba pagar uma importação ou exportação é uma operação de guerra e muito perigosa.

 

Cuba, ao contrário de você, uma empresa e a maioria dos países do mundo, não pode fazer sem problemas uma simples transferência bancária. E os ativos cubanos são constantemente confiscados (roubados) pelos Estados Unidos – e empresas com negócios com Cuba podem sofrer o mesmo.

 

Mesmo doações de solidariedade tem dificuldades de chegar, por exemplo. Nessa matéria da Global Times (título: A maioria das doações da China não pode chegar a Cuba devido a embargos): “O Embaixador Carlos Miguel Pereira disse que os suprimentos médicos doados anteriormente pela Fundação Alibaba para ajudar Cuba no combate ao COVID-19 ainda estão encalhados na China devido às sanções impostas pelos Estados Unidos. “A razão é que o governo dos Estados Unidos endureceu sua política de embargos econômicos, comerciais e financeiros impostos a Cuba, impedindo a empresa de enviar o equipamento a Cuba, apesar do fato de que esses suprimentos médicos são necessários com urgência para combater o vírus”, disse a embaixada em Weibo.”

 

Aliado a isso, Cuba é obrigada a perder valor no comércio internacional. Por causa das dificuldades do bloqueio, compra mais caro e vende mais barato. A China compensa isso, mas não pode atuar como uma fonte eterna e inesgotável de transferência de valor para Cuba. Comparar a China com a URSS não faz muito sentido, considerando que a URSS, não sem consequências, era isolada do mercado global e podia enfrentar totalmente bloqueios sem colapso nas suas cadeias de valor. Não é o caso da China. Não hoje.

 

Aliado a isso, as consequências de furar o bloqueio são pesadas. Petroleiras russas que venderam petróleo para Cuba sofrem muito e tem dificuldades em transações financeiras – em paralelo, a esquerda linha Partido Democrata dos EUA bate palmas para propaganda liberal anti-Rússia.

 

A força da China cria a ilusão em alguns que os Estados Unidos já são um nada no mercado mundial. Falso. Os EUA controlam o dólar, o sistema financeiro internacional e de meios de pagamento, controlam várias cadeias de valor, tem um poderoso mercado interno, a maior máquina de guerra do mundo, a indústria cultural mais potente do mundo, uma infraestrutura ainda determinante no mercado mundial etc.

 

É possível debater, e acho muito lícito, se a China poderia fazer mais. Mas ela não faz pouco. E é uma total ilusão, um desconhecimento do mundo, achar que a China pode tornar nula o bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba. Não pode. Não tem esse poder hoje. Nem perto disso. E você que fala em “imperialismo chinês” e “imperialismo russo” igual ao “imperialismo estadunidense” é um perdido no mundo.

 

Mais importante que cobrar a China, me parece, é cobrar nós, os brasileiros. Por que não tomamos o poder ainda para exercer intensa solidariedade latino-americana?

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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