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Editorial – 22.06.2021

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Mais um crime contra a população pobre do nosso país acaba de ser consumado, com a aprovação, ontem (21), pela Câmara dos Deputados, do texto da Medida Provisória que foi alterado pelo Senado que autoriza a privatização da Eletrobras, um dia antes da matéria caducar.

 

Os parlamentares aceitaram todos os jabutis inseridos na MP pelos senadores, que ampliam os custos da venda de ativos da empresa para os brasileiros. É consenso entre especialistas do setor que a privatização da companhia vai aumentar a tarifa de energia elétrica no país, às vésperas de um quase inevitável racionamento. O texto segue agora para sanção do presidente Jair Bolsonaro.

 

E um dos pontos que o chefe do Executivo deve vetar é aquele que concede aos funcionários demitidos sem justa causa durante os 12 meses subsequentes à desestatização cargos em outras estatais. É vergonhoso como esse sujeito demoniza o funcionalismo público. As entidades que defendem a Eletrobras pública irão, agora, recorrer ao Supremo Tribunal Federal questionando as inconstitucionalidades da Medida Provisória. Essa batalha ainda não terminou. Seguiremos aqui no Faixa Livre atentos aos desdobramentos desse processo. Mas eu gostaria de aproveitar esse espaço editorial para fazer a leitura de mais uma crônica genial do jornalista Joaquim Ferreira dos Santos, publicada ontem pelo jornal O Globo. O título do texto é “Inverno é a próxima vítima de fakenews”:

 

O inverno começou aos 32minutos desta madrugada, sinal de frio em nossas almas acaloradas, mas ele não tem culpa se o mais alto dignitário da nação debocha de 500 mil caixões, um sujeito passeia no shopping com uma suástica no braço e mais adiante um outro, doutor em anedota e champanhota, diz com a saliva dos formados em Chicago que o prato cheio da classe média mata de fome os mais pobres. O Brasil deixou de ser o Brasil onde cantava plácida a juriti, virou uma realidade paralela iluminada pelo sol da cloroquina. Deixem o inverno fora dessa terra plana.

 

Não é a estação das flores, não é o verão que deixa todas com a bundinha de fora. Pelo contrário. O inverno dói. Alguns, num dia frio, têm um bom lugar para ler um livro e outros, ô sorte, quem lhes aqueça neste inferno. O resto confirmará o preconceito vindo daquela propaganda das Casas Pernambucanas, quando alguém bate à porta, a dona da casa pergunta quem é e, diante do anúncio de que é o frio, começa a cantarolar que não adianta bater, não vai deixar entrar. Pobre inverno, os desprezados do mundo se solidarizam com tua sina.  

 

Começa hoje a nova temporada de mentiras, aquela que esquece a falta de vacinas e logo mais, diante das rotineiras duas mil mortes anunciadas pelo consórcio dos órgãos de imprensa, vai botar a culpa de tamanho horror na capacidade do vírus surfar em baixas temperaturas. O inverno será o vilão dessa estação de delírios e o ministro da Saúde, sem máscara, desmascarará com veemência a presença deste agente comunista infiltrado entre os homens de bem.

 

O termômetro cai e o cobertor é curto para esquentar o corpo de tanta gente sem auxílio emergencial. Mas se há quem acredite que a vacina injeta um imã na corrente sanguínea – definitivamente, isso não vem do fato de o solstício de inverno ter-se feito ainda há pouco. O inverno usa pulôver, não é responsável pela camisa de força sob a faixa presidencial.

 

Até mesmo o chileno Pablo Neruda, num poema aos olhos da amada, passou por ele e o adjetivou apenas de “grave”. O inverno exige respeito. As noites são mais longas, os dias mais curtos. Nada impedirá, no entanto, que motoqueiros, garimpeiros, madeireiros e demais barraqueiros da insanidade saiam em seu encalço armados de spray israelense, golden shower, nióbio, voto auditado, caneta Bic, CPF cancelado, ivermectina e todo o resto que o gabinete das sombras aprovar como ineficaz na reunião desta manhã.

 

Por mais que venha enrolada em lã e lambuzada de conhaque, não é uma estação para amadores. A umidade fica abaixo de 40%, o ar seco concentra fumaça e poeira, as doenças respiratórias fazem a festa – e está pronta a cena para nova cepa de desinformação. Negacionistas, aglomeradores de machos sem máscara, agregadores de ignorâncias, anunciadores do Cristo montado num meteoro e mais o presidente que dorme no palácio com um revólver embaixo do travesseiro – todos vão começar nova temporada de fakenews.

 

Eu saúdo o inverno, a sua inocência científica, e que ele nos leve com o mínimo de rinite, um bom pijama de flanela, até a próxima parada – o equinócio da primavera e da esperança de o brasileiro voltar a celebrar as flores e exaltar a vida”.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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