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Editorial – 22.09.2021

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Vergonha, vexame, humilhação, abjeto, criminoso. Sobram adjetivos para classificar o discurso do presidente Jair Bolsonaro ontem (21), em Nova York, na abertura da 76ª Assembleia Geral da ONU. O chefe de Estado brasileiro não se contentou com o constrangimento de ser o único entre os representantes das 20 maiores economias do mundo a não ter se vacinado contra a Covid-19, sendo repreendido pelo primeiro-ministro do Reino Unido Boris Johnson, pelo prefeito de Nova York Bill de Blasio, com o fato de ser obrigado a comer pizza na rua com sua comitiva por conta da falta do imunizante, já que os restaurantes da cidade estadunidense exigem um comprovante de vacinação para que os frequentadores acessem suas dependências.

 

O ex-capitão utilizou o mais importante fórum mundial de debates para propalar mais um espetáculo de mentiras a respeito de sua gestão, defendendo práticas absurdas e que se contrapõem às recomendações das autoridades de saúde, por exemplo. Eu me refiro à defesa que Bolsonaro fez ao uso de tratamento precoce contra o coronavírus, ressaltando que ele mesmo havia se submetido aos medicamentos comprovadamente ineficazes, como hidroxicloroquina e azitromicina. Além disso, ele sustentou a tese da imunidade de rebanho para evitar novas infecções, algo defenestrado pelos especialistas. Ou seja, o presidente da República falou, mais uma vez, para sua horda de apoiadores.

 

O que chama a atenção é que esse tipo de declaração do presidente é auto-incriminatória, já que a CPI da pandemia investiga essas práticas defendidas pelo chefe do Executivo. Eu acho que uma das poucas verdades que Bolsonaro disse no seu discurso se deu logo na primeira frase, quando ele afirmou que o Brasil mudou, e muito, desde que assumiu o governo em janeiro de 2019. E mudou mesmo, para pior.

 

Além disso, o ex-capitão destacou, vejam só, que o Brasil está há dois anos e oito meses sem qualquer caso concreto de corrupção. Talvez ele tenha excluído o seu governo dessa análise. Bolsonaro declarou que o Brasil tem um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição e seus militares, valoriza a família e deve lealdade a seu povo. Como se não bastasse, o político sem partido teve a cara de pau de dizer que o país estava à beira do socialismo.

 

O presidente também se posicionou contrário ao passaporte sanitário, que confere benefícios às pessoas que tenham se vacinado contra a Covid-19, citou dados fora de qualquer contexto para garantir que o desmatamento diminuiu na Amazônia, ressaltou que os atos dos seus apoiadores no 7 de setembro foram os maiores da história do país e que o desempenho econômico do Brasil em 2021 é um dos melhores entre os países emergentes.

 

Enfim, o constrangimento foi geral, inclusive entre os assessores do presidente, que acreditavam em um discurso mais moderado de Bolsonaro, sinalizando para a comunidade internacional após todas as ameaças que ele fez à democracia brasileira, diante da necessidade de se anunciar medidas efetivas de proteção ao meio ambiente, em um momento em que a pauta das mudanças climáticas é prioritária.

 

A ideia de que o presidente não tem qualquer comprometimento com os reais interesses do país fica cada dia mais evidente. O que Bolsonaro deixa claro com esse tipo de discurso é que só interessa a ele recuperar a confiança de sua militância mais aguerrida, que se afastou, de alguma forma, após aquele passo atrás que o ex-capitão deu com a carta de mea culpa publicada depois do Dia da Independência.

 

Enquanto o Brasil não se ver livre desse cidadão que adota a mentira como estratégia política, inventa realidades particulares para atender a seus próprios interesses e faz do país chacota internacional, esse pesadelo que nós vivemos não terá um fim. Por isso, mais do que nunca, é fora Bolsonaro e Mourão já.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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