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Editorial – 26.04.2021

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De volta após esse pequeno recesso de três dias sem programas inéditos para recarregarmos as baterias, aproveitando dois feriados que tivemos na semana passada, há alguns temas que nós precisamos abordar aqui no programa. O primeiro que eu gostaria de comentar foi essa entrevista concedida pelo ex-secretário de Comunicação da Presidência da República Fabio Wajngarten à revista Veja, que provocou alguma polêmica e reafirmou essa tentativa coordenada de tirar a responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro pela tragédia provocada pela falta de liderança no combate à Covid-19.

 

O publicitário fez questão de jogar a culpa no ex-ministro da Saúde general Eduardo Pazzuelo e sua equipe, especialmente no atraso para a vacinação no país. Demitido sob o argumento de que era necessária uma reconstrução da desgastada relação entre o governo e a imprensa, Wajngarten disse que houve incompetência e ineficiência do titular da Pasta.

 

Ele citou o episódio do desinteresse do Ministério para a aquisição, ainda no ano passado, de doses do imunizante desenvolvido pelo laboratório Pfizer. Ao saber deste caso, o ex-secretário teria o levado ao conhecimento do chefe do Executivo, que o autorizou, em suas palavras, a negociar um acordo diretamente com a farmacêutica. Após se reunir com representantes da empresa, discutir cláusulas e preços, houve um compromisso entre as partes para a entrega de milhões de doses das vacinas, mas as negociações acabaram não prosperando.

 

A entrevista de Wajngarten provocou sentimentos ambíguos no Palácio do Planalto, pois se de um lado ele tenta livrar Bolsonaro, por outro ataca Pazzuelo, que é visto no governo como uma bomba-relógio caso resolva falar o que sabe à CPI da Pandemia, que será iniciada essa semana no Congresso. O ex-ministro foi transferido na última semana para a Secretaria-Geral do Exército, mas deve ser realocado em breve em um cargo de confiança no governo, na intenção de mantê-lo prestigiado e de bico calado.

 

Outro tema importante que nós não chegamos a comentar foi a confirmação do novo cancelamento do Censo Demográfico, que já havia sido transferido de 2020 para esse ano, e que não será mais uma vez realizado por conta da falta de recursos no orçamento. A expectativa é de que a pesquisa decenal de responsabilidade do IBGE aconteça só em 2022.

 

O fato é que a suspensão do Censo provoca prejuízos incalculáveis para o país. O apagão estatístico impede a efetividade no emprego de recursos para a implementação de políticas públicas que beneficiem a população mais pobre, já que não há a determinação das características dos domicílios e das famílias brasileiras, isso sem contar que a pesquisa qualifica a quantidade de representantes nas câmaras municipais, nas assembleias legislativas e no Congresso Nacional.

 

Mas é muito evidente que isso não se dá por falta de bom senso. O cancelamento da pesquisa faz parte do projeto de desinformação adotado pelo governo Bolsonaro desde o início do mandato. Informação de qualidade a respeito da realidade brasileira expõe de maneira mais contundente a inépcia de uma gestão que prioriza a destruição, o desmonte, a dependência.

 

Não falta dinheiro, o que está em jogo é a sobrevivência política do capitão.

 

Para concluir, eu queria citar essa quase decisão do Supremo Tribunal Federal que confirmou a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro no julgamento do inquérito do tríplex no Guarujá que condenou o ex-presidente Lula à prisão e retirou seus direitos políticos, algo que a Segunda Turma da Corte já havia deliberado.

 

No momento em que o placar apontava 7 a 2 a favor do petista, o ministro Marco Aurélio Melo pediu vista do processo, postergando a promulgação do resultado. O que fica é que, definitivamente, o Brasil foi vítima do maior conluio político-jurídico-midiático de sua história para evitar que um partido voltasse ao poder. E Sergio Moro, em pouquíssimo tempo, terá seu lugar reservado no lixo da história.

 

A respeito desse episódio, e aproveitando também para lembrar os 47 anos da Revolução dos Cravos, celebrados ontem, e que pôs fim à ditadura salazarista em Portugal, eu quero ler um artigo essencial e corajoso escrito pela ótima jornalista Cristina Serra e publicado no último sábado (24) no jornal Folha de S. Paulo. O título do texto é justamente “Sergio Moro no lixo da história”:

 

Na sessão do STF que examinou a equivalência entre turmas e plenário como fóruns de decisão da corte, uma rápida discussão entre os ministros Luís Roberto Barroso e Ricardo Lewandovski resumiu o cerne do que estava em jogo: se vale tudo no Judiciário para perseguir e prender inimigos políticos ou se ainda podemos acreditar na prevalência do devido processo legal.

 

A Vaza Jato mostrou que o ex-juiz Sergio Moro sugeriu pistas, informantes e estratégias aos procuradores da Lava Jato, ou seja, tramou fora dos autos como chefe da investigação. Violou o direito básico do réu a um juiz imparcial e desprezou o código de ética da magistratura.

 

O ministro Barroso considerou que a Vaza Jato revelou apenas “pecadilhos”, “fragilidades humanas”, “maledicências”. A complacência não passou em branco para Lewandovski, que lembrou outros excessos de Moro muito antes da entrada em cena do hacker e do site The Intercept, como conduções coercitivas e prisões preventivas excessivas.

 

Acrescento aqui a interceptação telefônica de advogados de defesa e o vazamento do grampo ilegal de conversa entre Lula e a presidente Dilma Rousseff. À época, a ilicitude mereceu apenas leve reprimenda do então relator da Lava Jato, Teori Zavascki, morto em 2017, e o assunto foi encerrado com pedido de “escusas” de Moro. Lewandovski assinalou também que as críticas ao modus operandi do ex-juiz não podem ser confundidas com defesa da corrupção. É uma distorção costumeira e que desqualifica esse debate.

 

Como o ministro Marco Aurélio Mello se aposentará em breve, espera-se que seja rápido na devolução do caso ao plenário. O Brasil precisa virar essa página. O que importa, porém, já está decidido. O Supremo consagrou a vitória do devido processo legal, do Estado democrático de Direito e da justiça. O ex-presidente Lula, impedido por Moro de concorrer em 2018, está livre para disputar em 2022. E Moro irá para o lugar reservado aos canalhas: a lata de lixo da história”.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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