Nesse editorial a jato de hoje, já que me sobrou muito pouco tempo, eu queria comentar rapidamente essa declaração ontem (28) do presidente Jair Bolsonaro a seus apoiadores a respeito da suspeita de corrupção na compra das vacinas Covaxin, de que “não tenho como saber o que acontece nos ministérios”.

Presidente, o senhor é responsável por tudo que acontece em qualquer área do Executivo por um motivo muito simples: a nomeação dos ministros, de todos eles, é uma atribuição única e exclusivamente sua. O que o general Pazuello e o deputado Ricardo Barros faziam por baixo dos panos é obrigação sua ter conhecimento. Isso levando-se em conta o benefício da dúvida, já que esse parlamentar está envolvido há anos com uma série de episódios absolutamente suspeitos, como eu citei no editorial de ontem.

Não adianta vir com essa história de que não sabe de tudo e tem confiança nos ministros. Aliás, os jornalistas do site The Intercept estiveram em Singapura na última semana visitando o endereço onde está registrada a empresa Madison Biotech, a intermediária na aquisição das vacinas do laboratório Bharat Biotech. Em um local sem qualquer identificação, uma funcionária confirmou que a empresa estava instalada ali, que prestava serviços para o laboratório indiano, mas que não poderia dar outras informações.

Mais tarde, ao contatarem um outro profissional da Madison, os jornalistas foram informados que a assessoria de imprensa da empresa esclareceria quaisquer dúvidas, mas não obtiveram respostas desde então. Um episódio cada dia mais nebuloso e que se ainda não confirma categoricamente pelo menos o crime de prevaricação por parte do presidente da República, mostra que Bolsonaro não tem qualquer controle sobre o que acontece sob o seu nariz.

Ouça o comentário de Anderson Gomes: