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“Fronteira entre crime e atividade política está dissipada”, diz Nildo

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As suspeitas que pairam sobre membros do alto comando do Executivo e do Legislativo de envolvimento com integrantes de grupos de extermínio não são uma novidade no país. As relações entre a família Bolsonaro e milicianos do Rio de Janeiro, como o ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, chegam há quase 20 anos.

 

A morte do chefe do ‘Escritório do crime’, grupo acusado pelos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes, pela polícia da Bahia no início do mês reacendeu a polêmica da conexão entre o poder instituído e as facções criminosas.

 

Os economistas Nildo Ouriques, presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e Heitor Silva, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estiveram no Faixa Livre debatendo essa intrínseca ligação.

Nildo Ouriques

Nildo Ouriques

 

Afora a discussão sobre as circunstâncias da morte do ex-miliciano em um sítio na cidade de Esplanada, umas das críticas a respeito do episódio foi provocada pela mudança do conteúdo de uma nota divulgada pelo PSOL, excluindo a ligação entre a execução da parlamentar carioca, em 2018, e o presidente da República, apegando-se ao que foi revelado pelas investigações dos órgãos do Estado.

 

“O que importa reconhecer neste momento de uma perspectiva política é que a fronteira entre o crime e a atividade política que conhecemos está dissipada. Está muito claramente estabelecido que o crime, o assassinato, a fraude, todas as formas calhordas de subversão da ordem estão colocadas na normalidade. Temos um sistema político apodrecido e, portanto, em uma linguagem brasileira, está liberado geral”, disse Nildo.

 

“Isso é parte dessa crise terminal do sistema político brasileiro, que a esquerda teima em não reconhecer atuando como se as instituições estivessem funcionando normalmente. O episódio da Bahia mostrou não só que Bolsonaro continua a ofensiva, mas como ele é capaz, com simples declarações, de colocar em constrangimento um suposto governador de esquerda, que é o Rui Costa”, prosseguiu.

 

O professor da UFSC se refere à entrevista onde o presidente acusou a ‘polícia do PT’, partido do mandatário baiano, de ter executado o capitão Adriano. O chefe do Executivo federal disse também que ordenou o filho e então deputado estadual Flávio Bolsonaro a condecorar, em 2005, o ex-miliciano, preso na ocasião, com a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

 

As relações estabelecidas entre o crime organizado e a política no Brasil, ao contrário do que aparenta, remetem a meados do século passado, conforme explicou Heitor.

 

“Essa ligação não é nova. Ela surpreende porque o carioca tem uma característica de olhar o que acontece na metrópole. Vou lembrar Tenório Cavalcante, um político importante na Baixada Fluminense a partir de grupos de extermínio. Nos anos 1980, tivemos um prefeito de Belford Roxo, o Joca (Jorge Júlio da Costa dos Santos), que era um matador tragicômico da política, usava como símbolo de campanha um coraçãozinho para tirar a pecha de matador”, lembrou.

 

Heitor Silva

Heitor Silva

“O que está acontecendo é que há um fenômeno novo na cidade do Rio de Janeiro que já desdobrou, que são as milícias. Elas ocupam 88 comunidades em 23 bairros da cidade, temos embaixo do controle da milícia 2,2 milhões de habitantes. Isso dá a ela uma capacidade financeira inaudita, do controle da distribuição do gás, das TV’s a cabo, internet e, o mais recente negócio, o controle imobiliário”, explicou o pesquisador.

 

Com o passar do tempo, os grupos clandestinos de agentes do Estado, que se estabeleceram com a promessa combater o comércio de drogas nos bairros da periferia do Rio, passaram a dialogar com os traficantes e buscar acordos, formando aquilo que já é denominado ‘trilícia’.

 

A queda no número de homicídios no país no ano passado, de acordo com estatísticas preliminares, se deve a esse tipo de relação entre as duas esferas criminosas e o aparelho estatal.

 

“Tem outra coisa que é a negociação permanente dos governadores com essas organizações criminosas, acho que há uma dupla determinação. Uma essa, mas tem outra que é a proximidade desse acordo que está sendo feito com o ministro Sérgio Moro, que colocou em Brasília todos os grandes líderes do crime organizado”, acusou o presidente do IELA.

 

Ouça o debate na íntegra:

 

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