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Ao longo das últimas décadas, o arranjo organizacional da maioria das sociedades se desenvolve em torno da acumulação de bens e capital, evidenciando e ampliando o desequilíbrio entre os que operam as estruturas de poder e aqueles que historicamente foram vítimas de preconceito.
A recente guinada dos países a projetos claramente liberais, em substituição a um perfil progressista que vinha se aplicando desde o início do século, confere uma situação de perigo iminente às conquistas da classe trabalhadora e das populações nativas. É o que observa a professora de História do curso de pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF) Virgínia Fontes.
“Estamos diante de uma situação contemporânea no mundo na qual o capitalismo hoje mostra sua face mais violenta e brutal. Ele sempre fez isso, não é uma novidade, mas à medida que se expande, abrange cada vez mais gente no planeta, expropria no mundo inteiro, principalmente na região asiática, na Índia, na América Latina e, aqui no Brasil, ainda assistimos o extermínio de camponeses e indígenas com seus modos de vida mais tradicionais sob absoluto silêncio de toda estrutura governamental e da grande mídia”, considerou.
O enfrentamento ao quadro, na opinião da professora, deve se dar pela ordenação da população: “Essa expansão do capitalismo só tem freio quando as grandes massas trabalhadoras enfrentam a exploração da pobreza e desorganizam esse processo apresentando novas possibilidades, até porque essas grandes massas produzem toda a riqueza”.
“Um projeto capaz de enfrentar a brutalidade com que essa direita brasileira vem agindo precisa fundamentalmente disseminar e difundir organização. Não uma organização burocrática, simplesmente voltada para criar formas de burocracia institucionais, mas uma organização capaz de mobilizar pela base, de formar para o enfrentamento das diversas formas de brutalidade que o próprio capitalismo vem colocando nos últimos tempos”, continuou Virgínia.
O sindicalismo, tradicional polo de resistência democrática, vem abandonando o protagonismo de outros momentos para a professora, especialmente pelo desmonte provocado pela precarização das legislações e relações de trabalho no país.
“Segundo dados do IBGE, 43% dos trabalhadores estão sem contrato formal. Os sindicatos tiveram uma redução da adesão e atuação importantes em função disso, mas não só, em parte também porque se tornaram máquinas de adequação dos trabalhadores aos formatos de exploração capitalista. Nem todos, claro, e nem todo tempo, mas essa tendência dos sindicatos os colocou como uma espécie de advogados da judicialização da vida do trabalho e uma limitação enorme para formação dessas massas trabalhadoras”, relatou.
A chegada de Jair Bolsonaro ao Planalto apresentou um novo ‘inimigo’ neste processo: as notícias falsas e a disputa de narrativas. Para combater o ator inusitado que se impõe, é necessário educar a população e oferecer o contraponto ao que é posto.
“É um enfrentamento, de certa maneira, das cortinas de fumaça, das bravatas da família Bolsonaro ou dessas formas de atuação midiática onde as redes sociais espalham boatos, mentiras, fazem maquiagem de vídeos velhos inventando coisas. Para enfrentar isso, temos de ter uma população formada e permanentemente informada, e não formamos só as pessoas no terreno intelectual, mas também no terreno do enfrentamento e da luta em todos os níveis”, argumentou Virgínia.
Ouça a entrevista de Virgínia Fontes na íntegra:
Entrevista em 08.01.2019